Marina Colasanti (Asmara, Eritreia, 1937) vem brilhando na cena carioca durante as últimas décadas, especialmente como jornalista e escritora. Em “Vozes de Batalha” ela faz uma crônica biográfica de sua juventude. Nela circulam diversos personagens interessantes, além dela mesma.
A estrela maior do livro é sua tia-avó, Gabriella Besanzoni (Roma, 1888-1962), uma cantora lírica, mezzosoprano/contralto, destaque mundial do mundo operístico durante a primeira metade do século XX.
Gabriella Besanzoni já residia no Brasil quando Marina e seu irmão Arduíno Colasanti, ainda crianças, chegaram da Itália, pouco após o fim da Segunda Grande Guerra. A diva era viúva e herdeira do riquíssimo empresário brasileiro Henrique Lage, que havia construído para moradia do casal a notável Vila Gabriella, no bairro do Jardim Botânico no Rio de Janeiro (então a capital do País). O local hoje é conhecido como Parque Lage; cenário de filmes, escola de artes, e espaço que abriga diversas exposições e outras manifestações dos envolvidos com a produção de cultura. O palacete já tinha algo de mítico na época em que foi habitado pela família, antes de tornar-se o tipo de referência que é hoje na cidade.
A cantora apresentou-se nos principais palcos europeus e americanos. Ficou muito famosa pela qualidade da voz e talento interpretativo. Seu papel mais marcante foi como Carmen do compositor Georges Bizet (libreto de Henri Meilhac e Ludovic Halèvy). Também foi uma mulher de personalidade forte e bastante ousada no comportamento, levando-se em conta a moral e costumes do mundo em que viveu; talvez tivesse alguma identificação com a personagem de Prosper Mérimée que inspirou a criação da ópera. Mesmo não tendo sido especialmente bonita, foi bastante sedutora e desejada. Teve relações amorosas relativamente longas com o rei Alfonso XIII da Espanha e com o pianista Arthur Rubinstein, antes de seu casamento com Lage. Contracenou com o lendário Caruso. Marina Colasanti, por ela acarinhada, guardou-a dentro de si como um ícone, atado a firmes laços afetivos. Foi a única parente contemplada no testamento de Gabriella, o que acabou por gerar conflitos legais com outros membros da família.
Além do perfil da parente estelar e de esboçar as características do contexto em que ela viveu, o livro descreve o ambiente em que se moveu a autora durante sua mocidade. Todavia, o grifo está no relato da intimidade na convivência com familiares e amigos e, especialmente, o que representou para ela morar no célebre edifício quando ainda era uma luxuosa residência.
Título da Obra: VOZES DE BATALHA
Autora: MARINA COLASANTI
Editora: TUSQUETS

Oi, Luís, essa história é incrível, não é? e o Arduíno, inesquecível. Lindíssimo. Lembro dele quando eu era mocinha (faz séculos rsrs). Não li o livro, mas conheci a Marina no tempo da Capitu, conversamos muito. Tenho boas recordações. Um beijo.
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Uma grande história mesmo. Também achei-a muito simpática, além de bonita, numa ocasião em que a conheci há muitos anos. Obrigado pelo comentário, querida Anaelena. Um beijo
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