“Berta Isla” de Javier Marías (Madri, 1951) permite diferentes recortes e modos de interpretação, como seus outros romances. Marías fala das obscuridades duradouras que caracterizam os relacionamentos interpessoais, inclusive os íntimos, mostrando o quão pouco podemos saber uns sobre os outros. Ele aborda várias dimensões na compreensão do ato de enganar, abrangendo quem engana e quem é enganado. Mostra a manipulação, como gesto perverso do indivíduo sozinho ou em uma coletividade, premeditando, forjando e usando ocorrências falsas, motivações fictícias, assim como impingindo crenças e valores convenientes a determinados interesses, no intuito de servir-se do outro. Além da erudição nas citações literárias, que contribuem para criar contextos para sua narrativa, o autor ousa com ideias como a de que, na História, o povo de uma nação não pode ser tão impunemente tomado como o elemento passivo e vitimizado por seus líderes. Neste romance, Berta é o que de certa forma todos somos, uma ilha. Namorada e depois esposa de um homem obrigado a tornar-se agente secreto britânico, fica alijada do que acontece-lhe e também do que ele pensa e sente. Os vínculos com outras pessoas também são sempre restritos, pouco a protagonista pode falar socialmente sobre si mesma e sua família, não há lugar para franqueza e proximidade com outras pessoas, o isolamento é a norma silenciosa, mas retumbante. Tomás, o marido é privado de quase todas as escolhas pessoais, o que deseja é sempre esvaziado, futuro e passado não devem constar em suas preocupações. É preciso estar, agir, obedecer, mas dissolver a singularidade e esperar sem esperança. Não há muito a quem se recorrer para uma prestação de contas ou obter algum tipo de ressarcimento por perdas e danos. Onde parecem estar Grahan Greene ou Balzac encontra-se Shakespeare, o drama contém a tragédia. Com discurso caudaloso e poucas vezes óbvio (mesmo que se possa adivinhar o curso da trama) Marías pretende muito. E instiga.
Título da Obra: BERTA ISLA
Autor: JAVIER MARÍAS
Tradutor: EDUARDO BRANDÃO
Editora: COMPANHIA DAS LETRAS
Luís, não sei a razão, mas creia, nunca li o Javier. Sua resenha me pareceu ótima para começar. Beijo. Ainda permitido, já que virtual.
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Olá Anaelena
É um bom livro dele. Gostei ainda mais de “Amanhã na Batalha Pensa em Mim” e também gostei muito de “Coração Tão Branco”.
Obrigado por comentar
Beijos para você
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Acompanho sempre suas postagens ,elas enriquece muito nosso conhecimento 👏
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Muito obrigado Gabriela
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Sempre instigantes aa resenhas!
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Obrigado Toni
Grande abraço
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