O siciliano Leonardo Sciascia (Racalmuto, 1921 – Palermo, 1989) foi político além de escritor. Interessou-se pelos mecanismos que regiam comportamentos sociais em sua terra natal, mas também pelo que eles podiam ilustrar sobre modos de ser mais universais dos seres humanos. “A Cada Um O Seu” é a estória de um duplo assassinato num vilarejo da Sicília, seus motivos e principalmente os diferentes significados dados e reações despertadas entre os conterrâneos dos personagens mortos. Sciascia contrapõe hipocrisia e cinismo à ingenuidade diante da ideia de Justiça e fala da violência, crueldade e covardia que as pessoas podem usar para alcançar seus objetivos ou garantir posições num determinado contexto. A crença inocente na Justiça neste romance é punida severamente. Tanto faz que os indivíduos proclamem discursos engajados na busca por ela e por sociedades melhores para todos ou sejam figurantes alienados que transitam nesta cena, sob o olhar crítico do autor quase todos ocupam-se exclusivamente de seus interesses pessoais. Os representantes da igreja católica seguem os mesmos preceitos. A todos cabe a culpa por entregarem-se ao engano das aparências que confortam e que contêm as sementes e adubos do mal. Nisto incluem-se tradições e crendices, apreciações superficiais e enviesadas pelos preconceitos a respeito da realidade, a insistência em preservar valores sobre os quais não se pensa e a falta de esforço para empreender reflexões corajosamente críticas sobre o que se vive e aquilo em que se acredita. Publicado em 1966, este livro alude com propriedade a seu presente, seu antes e seu depois, na Sicília e em qualquer outro lugar.
Título da Obra: A CADA UM O SEU
Autor: LEONARDO SCIASCIA
Tradutor: NILSON MOULIN
Editora: ALFAGUARA
Estante do Justo 