Edith Wharton (EUA, 1862 – França, 1937) foi a primeira mulher a ganhar um prêmio Pulitzer. Isto aconteceu em 1921 com seu livro mais célebre, “A Época da Inocência”. Foi uma mulher notável em vários aspectos. Ousou recusar o papel designado às mulheres de seu meio social no final do século XIX e início do XX e soube fazer bom uso da educação sofisticada e acesso a privilégios. Também nunca abriu mão da elegância ao manifestar o que pensava. Observou com inteligência os mecanismos que regiam o comportamento das pessoas com quem conviveu, incluindo os relacionamentos afetivos. Teve a grandeza de não ser destrutiva nas críticas que teceu; sua generosidade transparece na tentativa de compreender (sem teorizar) possíveis motivações mesmo para aquilo que ela reprovava nas interações humanas. Entendeu a importância das construções de identidades para indivíduos e grupos. Nesta obra premiada ela criou um retrato vívido da “alta sociedade” nova-iorquina do final dos anos 1800, com personagens fascinantes. Sua abordagem convida à reflexão. Trata de sentimentos sem sentimentalismo. Ela fala de mulheres e homens dominados por princípios e regras que quase nunca questionavam, admitiam-nos e faziam deles as balizas de seu modo de viver. Defendiam-nos como um bem maior, que poderia garantir sua existência como seres dignos e talvez mais merecedores de respeito e benesses do que outros. Neste mundo o conservadorismo era extremo e a impermeabilidade a tudo o que fosse diverso equivalia a um atestado de honradez. Wharton dá destaque ao pragmatismo de seus protagonistas no cumprimento das normas tacitamente acordadas pelo grupo social, assim como a capacidade para camuflar seus aspectos mais cruéis. Os europeus representavam um contraponto. Especialmente a nobreza, considerada como degenerada moralmente, permissiva e corrompida por “porosidades” determinadas por certas formas de arte, de filosofia e também pela tolerância perigosa nas atitudes relativas ao amor e ao casamento. Tal nobreza acabava por ser posta em posição de desvantagem tamanha que não cabia-lhe nenhuma alegação de superioridade frente aos americanos “bem nascidos”. Sistemas tão fechados e rígidos (inclusive defensivamente) como este dificilmente sobrevivem por muito tempo. Há sempre quem veicule novas ideias e também quem as hospede e mude através delas, promovendo instabilidades no equilíbrio grupal. E foi o que aconteceu com o “modo de ser” deste camada da sociedade nova-iorquina analisada na ficção de Wharton, que documenta a realidade desta época e contexto. A autora, participante ativa das transformações sociais ocorridas em seu tempo de vida e dedicou-se à descrição de parte disto. Se é permitido classificar alguns romances como “de formação” este deve poder ser distinguido como um “de transformação”.
Título da Obra: A ÉPOCA DA INOCÊNCIA
Autora: EDITH WHARTON
Tradutora: HILDEGARD FEIST
Editora: PENGUIN-COMPANHIA DAS LETRAS