Muitos escritores têm o propósito de criar polêmica com o que escrevem, outros fazem isso involuntariamente. De um modo ou de outro, quando os leitores são sensibilizados para a reflexão e discussão há potencial de ganhos. Com alguma sorte fazem-se exames de valores e revisões de opiniões, atitudes, etc, frequentemente cristalizados sob os longos períodos de entorpecimento que podem acometer o intelecto. Os autores não conseguem apropriar-se completamente do que dizem, pois são dominados pela complexidade polissêmica (tanto semântica quanto de conteúdo) assim que escrevem algo. E isso se amplia quando são lidos e interpretados por outros. Os mais sábios nem tentam embarcar nessa ilusão de inteira propriedade do que produzem. Aceitam tacitamente o fato de dizerem mais e menos do que pretendem. E responsabilizam-se por isso.
O francês Michel Houllebecq (Ilha de Reunião, 1956) costuma provocar reações apaixonadas em seus leitores. Talvez mais ainda nos que não o leram em primeira mão. Um bom modo de “ouvir” Houllebecq é evitando a tentação de concordar ou discordar de suas ideias precocemente. Ao acompanha-lo identificamos um jogo de acepções articuladas de modo genuíno e também temerário. Fica a impressão de que seus temas nunca deixaram de ser enigmas para ele. Aborda-os sem escusas. Arrisca-se. O amor é um deles. Aliás, os afetos e suas motivações de modo geral. Em “Partículas Elementares”, um de seus primeiros romances, o tratamento destas questões pode parecer uma provocação deliberada. Todavia, é possível que não o seja. Este romance dá voz a um observador intrigado com o que se pode sentir antes das racionalizações. Surpreende sua coragem ou ousadia ou desespero para alcançar o que talvez nunca tenha experimentado mais concretamente, nos vais e vens da vida.. Algumas vezes aproxima o erotismo da violência na procura por sensações limite. Depara-se com a força destrutiva dos seres humanos. Pode parecer excessivo, apelativo, aparências primeiras que podem cegar. “Plataforma” é outro de seus livros de sucesso. Em alguns momentos Houellebecq parece ter tornado-se um ativista político. E pode assustar ou desgostar. Em “Submissão” (talvez seu trabalho mais polêmico) a fantasia criada com temores e construções de feitio paranoide (mas não impossíveis de se realizarem), detectáveis sob a superfície de discursos diversos a respeito de tolerância, ideologia, religião, militância política, desconcerta ao leitor que almeja ser politicamente correto. Nesse livro o autor, sem teorizar, põe em cheque as crenças sobre multiculturalismo, seus limites, consequências e exequibilidade verdadeira. E nisso a dimensão contingente da atuação ética.
Enfim, os conteúdos explícitos e implícitos na obra deste escritor têm alto potencial explosivo. E, ele parece pouco empenhado em cultivar a imagem de alguém ponderado e cauteloso. Cabe ao leitor aprecia-lo. Depois vem o resto.
Poderia incluir Gilberto Galan para receber sua newsletter? O e-mail dele está em cópia.
CurtirCurtir
Eu ficaria honrado. É só escrever o endereço de e-mail no espaço “seguir”, clicar o botão e depois ele tem que confirmar quando receber o mensagem por e-mail.
Obrigado
Bjs
CurtirCurtir
Parece muito bom. Vou procurar lê-lo!
CurtirCurtir
Obrigado pelo comentário, Marina.
Abs
CurtirCurtir
Essa postagem abriu meu apetite para ir em busca do polêmico “Submissão”. Espero sua leitura e comentários.
CurtirCurtir
Eu gostei muito, Christiano.
Fiz uma postagem mais antiga sobre “Submissão”.
Obrigado por comentar
Abs
CurtirCurtir