A África é um continente repleto de diversidade. Diferentes etnias, culturas e regimes político-administrativos, com interações complexas. A pluralidade é marcante na literatura lá produzida. Por outro lado, pouca semelhança há entre obras literárias que aludem à África, mas estão fora dela, em espaço e tempo, e aquelas escritas por africanos natos e que tratam dos muitos temas brotados em autênticos cenários locais, com identidades próprias, ainda que não deixem de ter uma dimensão universal. Mais frequentemente conhecemos autores afrodescendentes. Gente da América, de norte a sul, ou da Europa. E que, mesmo com peculiaridades relativas a suas origens, têm real pertencimento aos países em que nasceram ou onde vivem. Costumam falar de seus mundos, já distantes daqueles existentes nas terras de seus ancestrais. Vale sempre lembrar que compartilhar os mesmos tons de pele ou ancestralidade não torna as pessoas iguais. Também por isso, conhecer o trabalho de escritores que nasçam e vivam em terras africanas pode ser uma experiência vivamente enriquecedora para americanos e europeus.
“Fique Comigo” da nigeriana Ayòbámi Adébáyó (Lagos, 1988) conta uma estória vigorosa, com sabor e frescor de iguaria natural, não artificialmente processada. A protagonista, órfã de uma das muitas esposas de seu pai, lida com questões de identidade ligadas às tradições em que está inserida sua família de origem, incluindo o difícil manejo de problemas inerentes à poligamia e, posteriormente, com problemas surgidos a partir de seu casamento (que pretendia monogâmico). O momento da ficção é próximo da realidade atual da autora. Em seu vibrante romance Adébáyó retrata a Nigéria de agora, seja no que é vivido pela personagem principal, seja no pano de fundo em que tudo acontece. As relações familiares e sociais têm relevo especial, com formas e cores características. A cultura Ijexá, ramo da Iorubá, permeia o enredo como algo vivo, sem travos folclóricos ou alegóricos. Bastante diferente do que estamos habituados a ver em nossos meios, enquanto leitores americanos ou europeus.
Aparecem também na trama aqueles sentimentos e comportamentos que são simplesmente humanos, sem cor, geografia, língua, ou determinados por costumes locais. Generosidade; mesquinhez; amor de raiz e amor de folhagem; coragem e covardia; ingenuidade que supera os poderes da inteligência; temores irracionais que ameaçam o bem estar individual e coletivo, além dos racionais, que podem fazer o mesmo; o desafio de enxergar e manifestar o que se constitui como verdadeiro em cada contexto e a superação das mentiras pusilânimes a que as pessoas recorrem na ilusão de contornarem suas dificuldades; rupturas e restaurações nos vínculos afetivos; a morte e seu impacto sobre os vivos; a busca do poder, cruenta ou suavemente travestida, nas relações íntimas ou públicas; enfim, há muito para se ver nesse livro.
Vale comentar que, lendo esta autora negra, nativa de um país cheio de problemas sociais, que trata da posição da mulher na sociedade em que vive sem ser uma feminista estereotipada, que fala de liberdade e opressão sem banalizar o assunto, o que fica evidente é que temos em mãos um bom livro e uma jovem e talentosa escritora.
Título da Obra: FIQUE COMIGO
Autora: AYÒBÁMI ADÉBÁYÒ
Tradutora: MARINA VARGAS
Editora: HARPER COLLINS

Li este livros , Fique cominho, e achei muito bom.
Estou lendo Port Mungo que vc indicou e gostando muito. Obrigada por todas indicações que li.
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Vou ler este com certeza, estou muito interessada nas literaturas do continente africano e os nigerianos que li até aqui são excelentes. Foram só uns dois ou três na verdade.
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Obrigado pelo comentário
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Olá Erick
Não trabalho mais no CRT
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Infelizmente eu não tenho como auxilia-lo, mas ja tem um profissional no meu lugar
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Amei esse livro!!!
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