Toni Morrison (EUA, 1931 – 2019) legou-nos uma bela obra. Soube criar beleza formal ao dizer o que pretendia, mas brilhou mais ainda por tratar de temas contundentes com um tipo raro de sofisticação do olhar. Sem o ranço que costuma acometer militâncias diversas, falou sobre o racismo em relação às pessoas negras nos Estados Unidos, sobre a injustiça pela desigualdade a que as mulheres vêm sendo submetidas nas relações com os homens e com as sociedades onde vivem e, especialmente, sobre características humanas inaceitáveis para quem anseia por civilidade. Neste último quesito ela não lançou mão de vinculações exclusivas com possíveis conflitos relativos a raça, gênero, classe social, religião e outras condições frequentemente associadas a certos horrores expressados na vida em sociedade.
“Voltar para Casa” é um lindo romance sobre tudo isto. Uma estória centrada em dois irmãos, um homem e uma mulher, negros e muito pobres, que passa-se em meados do século XX nos EUA. Época em que o impacto das grandes guerras e a violência da discriminação racial, de gênero e talvez muitas outras eram tomados quase como “naturais” na sociedade norte americana. Ele, retornado da guerra da Coréia e assombrado pelo que viu e fez, vai em busca da irmã que está quase morta, vitimada por atrocidades de um médico para quem trabalhava. Ao valorizar a fraternidade, a autora não mitiga os comportamentos brutais de que são capazes muitos indivíduos e que são potencialmente universais em suas inúmeras roupagens. Morrison não cria vítimas e algozes, sua abordagem é bastante mais profunda, cortante, inteligente. Ela sabe dizer com emoção, sem gritar. Não precisa denunciar nada. Seria redundante e inócuo. Tem a firmeza e serenidade de quem sabe que lutar pelo melhor é algo distinto da beligerância reducionista e destrutiva. Sua voz não é restritamente negra, feminina, do século XX ou norte-americana. Pode ser ouvida para além destas especificidades e fazer coro com muita gente, em diferentes lugares e tempos.
Foi a primeira mulher negra a ganhar o Prêmio Nobel de literatura, em 1993. Também ganhou o Pulitzer (por “Amada”), entre vários outros. Mereceu todos. E outros tantos que não recebeu.
Título da Obra: VOLTAR PARA CASA
Autora: TONI MORRISON
Tradutor: JOSÉ RUBENS SIQUEIRA
Editora: COMPANHIA DAS LETRAS

Li o livro, mas talvez não tenha lhe dado a devida importância.
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Gostei muito do resumo do livro….
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Obrigado José Cícero
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Fiquei tentando a ler ao livro.
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Gostei muito de seu comentário.
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Obrigado Tania
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