“Breve História de Sete Assassinatos” de Marlon James (Kingston, Jamaica, 1970) não é nada breve. Também não se trata de uma estória policial como o título pode sugerir. O escritor, atualmente professor na Universidade de Colúmbia em Nova York, ganhou o prestigioso “Man Booker Prize” em 2015 com este livro em que a forma narrativa é bastante original. O que se constitui em tema não se delineia numa trama. James fala da violência humana, da ação de assassinar e o sentido de seus propósitos. Assim como da estreiteza dos afetos amorosos, da escassez de sensibilidade solidária. Isto pode manifestar-se diversamente através do racismo, sexismo, generismo e fanatismo ideológico e religioso. Todavia, o autor mira algo além destas questões, que as costura e está em suas raízes: a compulsão para dominar e submeter o outro, usá-lo para algum tipo de satisfação, descartando escrúpulos e, no extremo, destruí-lo. Ele não permite que o leitor distraia-se com relatos sobre estórias particulares, sobre um crime específico, ou sete. Inclusive por não se ocupar muito com o ritmo e nem mesmo com a clareza do enredo. Os cenários são as zonas pobres de Kingston, a capital da Jamaica, Miami e Nova York. Os personagens são apresentados através do que pensam e dizem, em capítulos geralmente curtos. São tipos que multiplicam-se ao longo do romance. Todos são protagonistas e nenhum é por si mais importante do que seu papel no conjunto. Suas vozes unificam-se para desnudar as desconcertantes motivações das pessoas nas relações íntimas ou, mais anonimamente, sociais. Um desses personagens é um músico, chamado somente de cantor, claramente inspirado em Bob Marley. São todos antípodas da idealização do indivíduo e das configurações estereotipadas de classe social. Desconfortam. Não há propriamente diversão na leitura. Os ganhos com a tarefa de chegar ao seu final têm relação com o estímulo para romper com crenças fáceis e comumente falsas produzidas por certos aspectos do narcisismo de cada um. O autor parece ter mais o propósito de desconstrução do que de oferta de propostas que justifiquem o pensar e o agir em nome de algum Bem. É cruento. Um alerta para o perigo de ser humano.
Título da Obra: BREVE HISTÓRIA DE SETE ASSASSINATOS
Autor: MARLON JAMES
Tradutor: ANDRÉ CZARNOBAI
Editora: INTRÍNSECA

Ótima resenha, Luís. Mas, confesso, não me animo. Ao menos, agora. Beijo, Anaelena
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Obrigado Anaelena. Beijo
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