A EDUCAÇÃO SENTIMENTAL

“A Educação Sentimental” do francês Gustave Flaubert (Ruão, 1821 – Croisset, 1880) além de ser um clássico da literatura, vem influenciando escritores e pensadores até hoje. Um romance realista que olha com profundidade para os indivíduos e as sociedades que criam. Flaubert trata de temas relevantes e com grande talento para desconstruir banalidades dos discursos e induzir inquietação e reflexão crítica ao invés de suspiros. Trata da distância entre idealização e realidade. Contrapõe a imagem anunciada por alguém sobre si mesmo e a negação disso através dos atos concretos motivados por interesses privados, menos ajustáveis aos ideais proclamados e, às vezes, determinados por contingências externas difíceis de evitar. Nesta obra não há heróis. Não há ideologias isentas de ilusionismo oportunista e nem do exercício da perversão na busca do poder, em função de enormes vantagens imaginadas quanto ao que ele poderia proporcionar. A estória passa-se durante período de sucessivas reviravoltas sociais que, depois da Restauração (da monarquia) que sucedeu a Revolução Francesa, acabaram por levar a França a outro breve período republicano e depois à instauração do Segundo Império. Movimentos políticos de esquerda e de direita digladiavam-se. Na visão do autor todos alardearam sua luta por um “melhor” e todos produziram um “pior”, sempre atravessando as misérias humanas, que têm múltiplas faces. O protagonista, um tanto ingênuo e outro tanto maliciosamente frívolo, faz de sua vida uma sucessão de frustrações e de perdas cuja extensão ele não tem capacidade de aquilatar com clareza. Nascido no interior da França, com ancestrais da pequena nobreza, vai “tentar a vida” em Paris, o que significa ir conhecer o mundo e aprender como agir nele para livrar-se do provincianismo e alcançar o sucesso. Amor, amizade, valores morais, ambições materiais, busca de posição social, o papel do homem que se torna público, os deveres para com o outro próximo e a sociedade e a política frequentam as pautas da trama. De modo comparável ao personagem principal os outros, mesmo aparentando características que o leitor poderia considerar positivas, acabam por ter atitudes que levam à impressão de certa vilania. Há ironia em relação ao idealismo e às utopias. Há humanismo, quando o autor grifa o peso da realidade na corrupção de belas propostas, mesmo que fossem articuladas com honestidade inicialmente. E, muito ousadamente, Flaubert denuncia a impossibilidade das certezas no que se pode aprender sobre a vida, assim como aponta a fluidez e mescla entre Bem e Mal nos comportamentos humanos individuais e grupais, nos projetos pessoais ou nas plataformas dos movimentos político-ideológicos. A ideia de educação, com sentimento e sem sentimentalismo, leva à obrigatoriedade do trabalho infinito e executado com humildade, para que não seja estéril.

Título da Obra: A EDUCAÇÃO SENTIMENTAL

Autor: GUSTAVE FLAUBERT

Tradutora: ROSA FREIRE D’AGUIAR

Editora: PENGUIN-COMPANHIA DAS LETRAS

 

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