A ILHA DE ARTURO

O amor pode ter expressões muito diversas e não é uniforme em relações duradouras. Evolui e transforma-se. É um sentimento que dificilmente aparece isolado de outros afetos. Assim, pode ser precedido e subjugado pelas paixões e acompanhar-se de emoções de variadas naturezas e intensidades. Frequentemente é miragem e às vezes puro mito. Um oásis a ser buscado em quase todas as vidas, que teimam em rumar para o deserto. Fundamental. “A Ilha de Arturo” de Elsa Morante (Roma, 1912-1985) fala de amores. Também da falta deles. Autora de recursos sofisticados faz o leitor lembrar da pluralidade, desconcertante para a razão, nas modalidades do amor e nos modos de ansiar por ele. O livro conta a estória de Arturo em sua infância e juventude, órfão de mãe, criado na ilha de Procida, perto de Nápoles, quase sem governança de adultos. Seu pai, um homem excepcionalmente bonito, omisso, irresponsável e ausente, encarna o objeto de amor na mitificação produzida pelo filho; a mãe, morta no parto, é a deusa que partiu. O menino educa-se quase exclusivamente através da leitura de livros que encontra na casa da família. O mundo dos vivos é inicialmente dominado por homens marcados por um certo tipo de misoginia. A figura da mulher torna-se presença quando o pai casa-se pela segunda vez com uma adolescente, quase da idade do protagonista. Ela passa a veicular o amor mais voluptuoso amalgamado ao que é maternal. A feia e simplória madrasta, de origem muito humilde, dotada de fé pétrea em crenças religiosas e morais, exerce forte impacto no desenvolvimento de Arturo. Ela também faz contraponto a vislumbrados amantes do pai, homens caracterizados por certa brutalidade e que o reduzem a dimensões muito inferiores às imaginadas pelo filho. Elsa Morante constrói caminhos para se chegar a cenas impactantes, que promovem reflexão sobre a afetividade e sobre tentativas feitas com o intuito de sair das “ilhas” em que se vive. O romance desdobra-se em oscilações entre o dizer sutil e a intromissão do cru, dando relevo ao que há de mais primitivo e vigoroso nos relacionamentos humanos. Um texto realista ao tratar da subjetividade e intersubjetividade, mesmo dando a impressão de metafórico; econômico em interpretações psicológicas. Prescinde de leituras alegóricas. Belo volume, como outros que a Editora Carambaia tem lançado, para quem ainda se delicia com o cuidado estético na presença física de um livro.

Título da Obra: A ILHA DE ARTURO

Autora: ELSA MORANTE

Tradutora: ROBERTA BARINI

Editora: CARAMBAIA

ILHA B

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