MANHÃ SUBMERSA

Educação escolar, tema frequente de controvérsias, parece tender aos seculares pecados das faltas e excessos. Difícil geri-la e transforma-la em instrumento eficiente de crescimento pessoal e social. Recursos e objetivos desviantes deste fim vêm sendo aplicados nos mais diversos contextos. A hipocrisia humana costuma ter papel de destaque neste campo, encobrindo tipos variados de má fé e de pobreza intelectual. O romance “Manhã Submersa” do português Vergílio Ferreira (1916 – 1996) fala sobre aspectos duros, se não brutais, que podem estar implicados nos percursos da busca de instrução formal. A estória contada guarda alguma distância das histórias da maioria das pessoas. Passa-se em Portugal, primeiras décadas do século XX, quando a um menino de família pobre e rude é imposta a ida para um seminário com o fim de estudar e tornar-se padre. Todavia, há muito de universal na abordagem do autor. Temas como os sentidos da liberdade, as limitações das possibilidades de escolha dos jovens, o valor mais genuíno do conhecimento e os embustes a ele mesclados, doutrinação como agressão à formação através da aquisição de informação e desenvolvimento do pensamento crítico, a importância dos laços afetivos, o desconcerto de percebê-los inconsistentes onde eram tidos como robustos e os determinantes de sua geração e modelagem, são alguns dos tópicos que podem ser lidos em planos distintos da narrativa. Os contrastes sociais e suas consequências nas relações entre os personagens importam, mas não são suficientes para decretarem seus destinos. Mais do que tratar das dificuldades impostas pela escassez de recursos materiais o autor toca na questão dos vieses quanto ao que representa civilidade, humanidade e da indigência, com ou sem disfarces, mas bastante comum, quando trata-se da capacidade para compreender e se solidarizar com o outro. Como em outras obras deste escritor, que foi também professor universitário, há um tipo de sisudez e discrição que são sugestivas daquilo que ele não podia ou não queria dizer abertamente. Isto, nele, contribuiu para ampliar as dimensões de compreensão do que escreveu. Há que se ler devagar e espiar pelos desvãos.

Título da Obra: MANHÃ SUBMERSA

Autor: VERGÍLIO FERREIRA

Editora: QUETZAL (Portugal)

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