A orientação sexual, ou seja, o “objeto”/destino de investimento do desejo sexual ou, mais pragmaticamente, com quem se faz sexo, não é escolha das pessoas. Às vezes há liberdade suficiente para relevar as conveniências e deixar reinar a autenticidade do que se é, dependendo do meio onde se vive e das características dos indivíduos. As deliberações possíveis são restritas. O domínio é escasso. Ninguém opta por ser heterossexual, homossexual, bissexual ou assexual. Cada um é o que é. Simples e complicado assim. Pouco importam teorizações sobre as os fatores determinantes e não há quem ou Quem possa mudar isto. O poder da vontade tem mais lugar na exteriorização de tais condições mas não na sua existência essencial. E, mesmo nesse aspecto, existem limitações de diferentes tipos, muito escapa ao controle voluntário. O cenário familiar é o primeiro a abrigar dramas e tragédias em se tratando do direito à verdade do que se é quanto à orientação sexual. O americano Garth Greenwell (Kentucky, 1978) tratou disso de maneira franca no romance “O Que Te Pertence”, embora esta seja uma estação intermediária do percurso narrativo e não o foco maior. Ele não parou aí. Falou principalmente de como o amor pode ter feitios diferentes inclusive entre seres de mesma orientação sexual, de como as trocas podem ser assimétricas e nem sempre intuitivas. Miséria e opulência transportam-se e alternam-se entre os atores do jogo amoroso/sexual. Autor sem pruridos moralistas, Greenwell aborda questões relativas ao comércio na atividade sexual, em moeda crua e em sutilezas que habitam a carne mas não lhe pertencem. A complexidade humana dá o tom ao discurso sobre o relacionamento entre dois homens originários de universos díspares. No texto, o que parece banal revela-se intricado. Diversidades culturais marcam presença, a Bulgária pós comunista faz contraponto ao meio oeste norte americano. Ao leitor não é permitida a acomodação em explicações diretas e não são oferecidas oportunidades de apropriações de sentido através de fechos e circunscrições claras. Há que se conviver com as formas cambiantes e imprecisas. Cada leitor só pode partir do (e chegar ao) que lhe pertence.
Título da Obra: O QUE TE PERTENCE
Autor: GARTH GREENWELL
Tradutor: JOSÉ GERALDO COUTO
Editora: TODAVIA
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