PÁTRIA

A nacionalidade pode ser pedra forte dos mosaicos que compõem identidades pessoais e sociais. Alguns povos depositam expectativas extremadas na possibilidade de afirmação nacionalista. Lutam ferrenhamente contra sua supressão por parte dos Estados em que estão instalados, algumas vezes tomados como opressores. Assim parece funcionar parte dos bascos, população que vive numa região que abrange áreas do norte da Espanha e do sul da França (denominada como País Basco, especialmente na parte espanhola) em relação aos dois países mencionados. Há também bascos vivendo em outros países, sua origem é a mesma, mas não são proeminentes as relações conflituosas como ocorrem na Espanha. Têm língua e cultura próprias  e habitam as regiões citadas desde a pré-história.

O escritor espanhol/basco Fernando Aramburu (San Sebastián, 1959) descreveu com impressionante sensibilidade o sentimento de pertencimento a este grupo étnico, em diversas formas de apresentação, no romance “Pátria”. A estória é construída em torno das ações da ETA, grupo considerado terrorista e que agiu com muita violência no intuito de obter independência da Espanha em décadas passadas. Todavia, o enredo caminha para bem além dos atentados que mataram muitos e horrorizaram o mundo. Para o autor importam sobretudo as relações entre pessoas, destacadamente dentro das famílias e círculos de amizades. O sentido de pátria adquire conformações e pesos diferentes entre os personagens, indo do fanatismo destrutivo ao elo fraterno. Ainda que usando uma abordagem direta e com linguagem bastante coloquial, as simplificações quanto ao tema são evitadas. Brutalidade/bestialidade e delicadeza entremeiam-se. Pequenez e grandeza sobrepujam ideologias nos comportamentos dos protagonistas, ainda que manifestadas em nome delas. A força que os indivíduos podem ter ou desenvolver toma feições de poesia na trama. São articuladas dinâmicas e parentescos entre ressentimento, ódio, amor, dignidade, dignificação, resiliência e capacidade de superação, se não perdão. Ganham relevo os aspectos mais complexos da identidade de cada um, geralmente de maior potência do que “bandeiras” de uso coletivo. Vale mencionar que a cena final, muito coerente com o conjunto do texto, mas mesmo assim surpreendente e impactante, é uma das mais comoventes da Literatura. “Pátria” é fiel à vida, carregada de vibração. Aliás, tudo vibra na escrita de Aramburu. Dentro e fora das pátrias.

Título da Obra: PÁTRIA

Autor: FERNANDO ARAMBURU

Tradução: CRISTINA RODRIGUEZ E ARTUR GUERRA

Editora: DOM QUIXOTE – LEYA (PORTUGAL)

patria1

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5 comentários

  1. Luíz, fiquei muito curiosa sobre esse livro. Deve ser ótimo. Mas, cuidado, o autor vai reclamar por você denominá-lo como espanhol/basco. Acho que ele gostaria de ser chamado só de basco… rsrs.
    Beijo e boa noite de sábado, bom domingo.
    Anaelena

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