Mohammed Moulessehoul (Kénadsa, Algéria, 1955) adotou o pseudônimo Yasmina Khadra (jasmim verde) para publicar seus livros. Curiosamente, sua esposa chama-se também Yasmina. Moulessehoul justifica o uso de outro nome que não o seu para evitar censura ou restrições por ter sido oficial do exército algeriano. Atualmente é reformado e vive na França. Tornou-se um escritor importante no mundo árabe e é cada vez mais conhecido em vários países do Ocidente. Em “O Atentado” ele usa linguagem pragmática, sem grandes preocupações estilísticas (pelo menos no que podemos ver através da tradução para o português), para abordar as tragédias embutidas num atentado terrorista que não estão expostas naquilo que usualmente se noticia nos veículos de imprensa. Seu olhar vasculha aquilo que tendo origem em motivações originadas em determinações do âmbito coletivo (religioso e político) impactam violentamente a intimidade das pessoas, espaço em que predomina o devastador sofrimento (que pode atingir qualquer ser humano), cuja natureza distancia-o das contendas que o causaram. O enredo versa sobre um médico árabe naturalizado israelense, que sofre um processo de desconstrução brutal em sua vida quando sua mulher faz-se explodir dentro de um restaurante, junto a um grupo de jovens que participavam de uma comemoração. Ele não tinha noção da militância política da esposa e nunca tinha pensado nela como alguém de crer e agir em consonância com tamanha brutalidade. Depois de sucessivas agressões sofridas por ele provenientes daqueles que passam a desconfiar de seu prévio conhecimento sobre o atentado ou até de algum tipo de participação ativa no evento, ele inicia uma busca febril por informações que possam fazer com que compreenda as motivações da mulher que ele muito amava e a quem julgava conhecer bem. Nesse percurso mergulha nos horrores que caracterizam os conflitos entre palestinos e judeus em torno da existência do Estado de Israel. Seu modo de interpretar as questões relativas à legitimidade da ocupação do território, por uns e por outros, confere força ao romance. Não há simplismo. Também não há adesões a qualquer tipo de ideologia que parta do direito tomado como indiscutível relativo à apropriação da terra em que os povos se digladiam. Todavia, as duras injustiças, que tanto fazem sofrer pessoas, independentemente de sua religião ou posicionamento político, não são camufladas nem miradas de esgueira. Sob seu olhar, vislumbramos muita diversidade de pensamento entre os povos abrigados sob as denominações “árabes”, “palestinos” ou “judeus”. Esta pluralidade está implicada na complexidade extrema dos graves e infindáveis embates naquele ponto do planeta. Perder violentamente o próprio chão (o que não se restringe a um único momento da História) parece o mote que determina movimentos de todos os envolvidos na estória e nas histórias reais que constituem o tema da obra. Todavia, a precariedade quanto à compreensão solidária e falta de cultivo de laços de fraternidade que costumam minar a convivência entre humanos é pano de fundo para o enredo. Escombros dominam de modo crescente o espaço em que habitam todos. Possíveis soluções são explodidas pelas ações de extremistas, que têm motivações nem sempre coincidentes para seus ataques. Amin, o protagonista da estória, recusa acima de tudo a destrutividade humana. Rejeita-a como instrumento de luta. Mesmo que isto possa custar, tragicamente, sua própria destruição. Aqui talvez resida a maior prova de bravura e compromisso ético, dele na ficção e de tantos outros atores da realidade, profundamente atingidos pelos conflitos em que estão envolvidos israelenses e palestinos. Vale dizer que o que acontece em função dessas complicadas questões destrói vidas em muitos outros lugares do mundo.
Título Da Obra: O ATENTADO
Autor: YASMINA KHADRA
Tradutora: ANA MONTOIA
Editora: SÁ EDITORA
