Universal, atemporal e senhora dos indivíduos de todas as geografias e culturas é a percepção da incompletude, da falta de algo que não definimos e que em algum momento, impreterivelmente, assalta-os(nos). Com ou sem confissão disto. Vale para qualquer tipo de biografia. Tal falta porta uma certa nostalgia do que parece ter existido ou ressentimento por aquilo que não houve ou perdeu-se, legando a sensação de vazio. Por temor ao inarrável criam-se-lhe máscaras e roupagens diversas. Servem os bens materiais, pessoas, afetos, valores morais, ideologias e algo mais que seja possível arranjar no engendramento de propósitos para a vida. Talvez possa-se incluir a luta pela sobrevivência e legitimação de um território para um grupo religioso e para um povo. Os oito contos que compõem “Cenas da Vida na Aldeia” de Amós Oz (Jerusalém, 1939-2018) têm esse tema como fio condutor. Há uma ligação consistente que os irmana. Há sentido em sua justaposição; a proposta de reflexão articula-se no conjunto que eles formam. Peças literárias que são uma ode ao bom gosto da sutileza. Não somente no sentido formal, mas também quando tratam da indigesta verdade, que se realiza nos aconteceres cotidianos de enganosa banalidade. Belos, graves, reais. Falam do profundamente comum. Quase todos (não o último) têm como cenário a mesma fictícia aldeia israelense com seus habitantes, que em cada narrativa ocupam posições diferentes nos desenhos dos enredos. Nesse povoado (lugar e gente) cabem muitos mundos, que além de serem muitos, são também um só.
Título da Obra: CENAS DA VIDA NA ALDEIA
Autor: AMÓS OZ
Tradutor: PAULO GEIGER
Editora: COMPANHIA DAS LETRAS
Luis, acho que gosto mais de ler suas impressões (poéticas), do que o gostaria do próprio livro. você é um escritor, um artista das palavras.. transporta o leitor ao mundo do sensível. Obg
Karina Haddad
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Muito obrigado pelo gentil comentário Karina
Beijos
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