Amores são sempre imperfeitos. De muitas maneiras e em muitos momentos das relações entre pessoas. As imperfeições amorosas são grandes protagonistas no engendramento das histórias em que que se tenta dizer quem se é e quem são os outros. Elizabeth Strout (Portland, EUA, 1956) ganhou o prêmio Pulitzer em 2009 com “Olive Kitteridge” e mostrou onde é capaz de chegar para descrever sentimentos e abordar o universo das teorias íntimas que são construídas no esforço de criar sentido para o mundo. Em 2016 publicou “Meu Nome É Lucy Barton” onde fala sobre um tipo de patrimônio constituído pela precariedade material e afetiva. É uma narrativa tecida através do legado recebido (e também construído) por uma mulher, proveniente de suas relações com família e o ambiente onde cresceu. Pode parecer estranho, mas para alguns a herança maior está naquilo gerou as aflições e evidenciou carências dolorosas, na espuma do mal dado e do que faltou. Alguns indivíduos ficam condenados ao amargor da mendicidade e do rancor, mas há aqueles que dotam-se da capacidade de resiliência, de amar, de transmutar a brutalidade e fazer da delicadeza um instrumento de percepção e de comunicação e, com alguma sorte e talento, de navegar nas possibilidades de real renovação. Lucy é alguém que fala para buscar compreender quem é, para rejeitar a pobreza na constatação do óbvio, para não estagnar e não se deixar aprisionar pelo ressentimento fácil que ameaça com o cegamento. Talvez a generosidade tenha sido um dos bons resultados que obteve daquilo que pode fazer do que fizeram com ela. Uma conquista. Impregnou seu olhar. Assim, ela aprendeu a essência da libertação repetidamente ao longo do viver e conviver. E adquiriu olhos fortes para suportarem o que dói fundo, o que é imensamente triste e também para enxergarem o que pode nutrir com uma felicidade possível (às vezes imensa também) em cada momento. Com Lucy as verdades abrigam-se na complexidade de interpretação da vida, do que foi só parcialmente dito, do que é preciso completar para criar razão e tolerabilidade. Um livro para comover quem pode se voltar para os aspectos abismais dos afetos e das motivações nem sempre muito visíveis imbricadas nos atos humanos. Comove sutilmente. Delicadamente. Uma oportunidade de reflexão e aprendizagem.
Título da Obra: MEU NOME É LUCY BARTON
Autora: ELIZABETH STROUT
Tradutora: SARA GRÜNHAGEN
Editora: COMPANHIA DAS LETRAS
Luís, deu vontade de ler este livro após a leitura do seu texto!
Entrou na lista de compras!
Beijos
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Olá Neila
Eu gostei muito. Acho que Elizabeth Strout é uma das grandes escritoras da atualidade. Obrigado por comentar
Um abraço
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Luiz,
Li os dois livros que vc comentou. A melhor escritora do gênero.
Se vc conhecer outras publicações , por favor publique.
Obrigada
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Obrigado pelo comentário
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