ÉTICA DEONTOLÓGICA, TELEOLÓGICA E A VELOCIDADE DO MUNDO

O tratamento dos valores e princípios morais que regem as ações humanas pode ter múltiplas vertentes, complementares entre si ou não. Um exemplo é o dos planos deontológico e teleológico da ética. O exercício da ética numa acepção deontológica implica a busca de referenciais relativamente fixos que guiem a checagem dos princípios morais. Tomam-se possíveis fundamentos universais para valores que se prestem a garantir a prática do Bem. Importam menos (ou nada) as consequências práticas, em sua imprevisibilidade, decorrentes da regência dos princípios morais na ação. Esta deve estar sujeita a valores que não podem sofrer inflexões em função das circunstâncias. A moral não deve curvar-se às variações da vida. Por outro lado, a ética denominada teleológica considera as consequências da aplicação de princípios morais na realidade objetiva. Discutir os desdobramentos pós-teóricos da moral torna-se um imperativo ético. Tal necessidade obriga ao exame incessante de aspectos pragmáticos do viver e das relações do homem com seu mundo, que evoluem de modo complexo em conformidade com as mudanças deste homem e deste mundo. As singularidades contam. Valores não se cristalizam, transformam-se. Talvez esta dimensão da ética seja pouco confortável para quem se propõe a considera-la quando mira o Bem. Ela demanda ajustes incessantes e suscita dúvidas que se multiplicam ao invés de serem debeladas. As tecnologias (especialmente de comunicação) têm tornado as sociedades velozes em suas mutações. Muda-se cada vez mais rapidamente de maneiras mais imprevisíveis. As relações entre humanos desafiam a ordem deontológica da ética, assim como ampliam os horizontes para onde devem estar voltados os olhares teleológicos. Cabe ao ser humano multiplicar esforços de aquisição de conhecimento e capacidade de reflexão, dar mais vetores à crítica, ser menos narcisista e egoísta, substituir paradigmas, renovar-se. Sem desistir de buscar o Bem.

flor

 

 

4 comentários

  1. Parece ser um livro bem interessante, com a possibilidade de nos tirar das nossas convicções, promovendo uma ampliação do nosso olhar. Vou ler. Obrigada!!!

    Curtir

  2. Luis, estudei filosofia por anos, intentando estudar a felicidade humana pela ética (mestrado na Unifesp). Para tanto, estudei alguns filósofos, dos pré-socráticos até André conte Sponville, passando por Spinosa, Kant, Nietzsche. A Ética Kantiana (deontológica e teleológica), sempre me encantou, embora rigida, “categórica”, principalmente neste mundo moderno “Balmaniano” (inventei agora), líquido, onde a velocidade e o descarte imperam sobre valores sólidos, perenes: Bem, Verdade e Belo. Estes “pilares” pedem empatia, altruísmo, abnegações e refreamentos que “narcisos” do século XXI não podem praticar. Vivemos num momento infantil, raso, concreto, regido pela busca do prazer instantâneo, de “self em self”, empobrecidos de sentido e profundidade. Nossa sociedade está adoecendo, por falta de amor (ética). Paradoxalmente nunca houve tanta oferta, mas jamais sofremos tanto de faltas.. nossa sociedade está “obesa”, porem desnutrida. este “buraco existencial”, só aumenta com o consumismo de coisas e pessoas. Estamos vivendo “da pele pra fora”, de imagem, esvaziados, negligenciando o valor do universo simbólico, interior. As “máscaras” pesam, estão coladas na pele, não obstante, há um tremendo vazio existencial, “da pele para dentro” que jamais será preenchido com estimulantes instantâneos.
    Muito obrigada Luís, pela oportunidade de poder divagar sobre estas questões que considero vitais àminha existência de vida, a minha alma.
    Karina Haddad

    Curtir

Deixe um comentário