A formação de uma personalidade inclui a educação em suas diversas acepções. Mas, não se restringe a ela(s). Aquilo que preenche o espaço entre educação e formação talvez constitua um universo à parte e um desafio às tentativas de compreender o comportamento humano. Predisposições biológicas e experiências forjadas intencionalmente ou casuais, variados intercâmbios afetivos, singularidade da recepção e delineamento interpretativo de informações, capacidade para ignorar e também para integrar conhecimento e outros recursos e, eventualmente, aplica-los adequadamente às demandas do mundo são parte do contínuo processo que nos permite ser alguém em algum lugar num período de tempo (onde ser, lugar e tempo são vertentes da existência). J. M. Coetzee (Cidade de Cabo, África do Sul, 1940), ganhador do prêmio Nobel em 2003, escreveu um romance-fábula em que alude a questões desta esfera. “A Vida Escolar de Jesus” provoca na racionalidade do leitor. Elimina a precisão de contornos sobre as intenções do autor. Obriga quem lê a lidar com questões acerca daquilo que forma os seres humanos, como o quanto e em que são passíveis de serem modelados por parte do mundo em que se inserem. O papel da Lei, a força do desejo, a violência e a destrutividade, que dançam nas intenções e atos destinados a serem o oposto. São expostas as contradições entre intenções e atos. Valores que não são convertidos em comportamentos e atos que podem revelar-se imprevisíveis ou inexplicáveis. O autor também toca nos amores, tão difíceis de estabilizarem-se, em consonância com sonhos e planejamentos. E trata do que leva-se e o que abandona-se nas escolas e nas experiências que estruturam os indivíduos. Enfim, muito do inexato que indefine nossas vidas, em que a transparência não é propriedade segura. Até mesmo numa fábula.
Título da Obra: A VIDA ESCOLAR DE JESUS
Autor: J. M. COETZEE
Tradutor: JOSÉ RUBENS SIQUEIRA
Editora: COMPANHIA DAS LETRAS