A violência de humanos contra humanos tem muitas formas de manifestação. Geralmente os primeiros eventos impactantes ocorrem em âmbito familiar e depois acontecem ocasionalmente em contextos diversos. As motivações podem ser de múltiplas naturezas. As consequências também. Lembranças disso, com maior ou menor grau de modificação interpretativa, tendem a acompanhar as pessoas duradouramente, resistindo às tentativas de apagamento ou neutralização. Eventualmente geram fantasias autóctones de outras violências, sem correspondência com vivências objetivas, mas igualmente fundamentais na maneira dos indivíduos construírem suas identidades e identificarem outros, impregnando a percepção e interação com o mundo. Muitas vezes determinam comportamentos irracionais ou de justificavas de difícil compreensão. Contribuem para a modelagem da vida. A premiada escritora norte-americana Joyce Carol Oates (Lockport, 1938) fala sobre o tema em “Mulher de Barro”. O livro conta a estória de uma mulher que na infância quase foi morta por sua mãe e, resgatada por alguém, empreende uma intensa luta por resgatar-se da própria tragédia. É mais uma de suas obras escritas com o tipo de maestria que faz diluírem-se as proposições formais ou didáticas para priorizar o vigor da trama e propiciar intensidade na leitura. Antes de tudo, Oates conta boas estórias. Sem banalidade. Seduzindo inclusive por isto. Este, como outros de seus romances, transportam o leitor para o espaço de sua ficção. Torna a forma da escrita transparente, para que esta não interfira na “viagem”. Discute temas atemporais, fazendo-os caberem elegantemente no percurso da leitura. Questões árduas e universais como a loucura, em diferentes acepções, são abordadas sem cacoetes. Assim como ela fala da capacidade para resiliência, das oscilações entre coragem e fraqueza, entre ação e passividade e da possibilidade de construir continuamente onde os desmoronamentos são inevitáveis. Seus personagens não se furtam a adesões ideológicas. Nisto também é possível depreender o potencial para agredir, violentar. A autora faz (também) política neste livro. A posição da mulher nas sociedades que insistem em padrões machistas; os reais interesses por trás das guerras; as mentiras usadas para manipular populações; a força das crenças que independem das realidades onde se inserem; as dificuldades de reconhecer o outro e de respeita-lo, a ambição de dominar e usar pessoas; a fugacidade das intenções amorosas; tudo isto permeando e compondo a identidade do indivíduo, é matéria de trabalho para Oates. E, quando ela trabalha sabe mostrar a importância da literatura para se olhar para dentro e para fora.
Título da Obra: A MULHER DE BARRO
Autora: JOYCE CAROL OATES
Tradutora: DÉBORA LANDSBERG
Editora: ALFAGUARA
Vou tentar achar este p/ ler
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Vale a pena. Obrigado por comentar Paola
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Adorei! Com certeza lerei. Bjão
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Obrigado pelo comentário Leyla
Um beijo
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