COM BORGES

Muitos dos que leem Jorge Luis Borges (Buenos Aires, 1899 – Genebra, 1986) têm curiosidade  sobre a pessoa que ele foi. Borges construiu um mundo íntimo que se universalizou na literatura. Intriga e desafia a capacidade de compreensão de seus leitores. Ele obriga à leitura criativa, coautoral. Este também parecia ser seu modo de ler o que quer que fosse. Para o mais célebre escritor argentino ler e escrever não eram processos totalmente distintos. Viveu como um viajante da palavra. Aprendeu a conservar a bagagem necessária para que não fenecessem as ideias e sensações que  importavam-lhe naquilo que lia. Seu mundo adquiriu independência das veracidades comuns. Nele havia onirismo e os elementos fantásticos iam além das alegorias. Tigres, labirintos, gentes que afirmam sua existência através de ações estranhas ao senso comum povoam, entre tantas imagens fabulares, seus contos e poesias. A imaginação nunca pode recuar ante as exigências pragmáticas do viver. Declamar textos de outros era-lhe fundamental para criar intensidades e saber-se vivo. Possivelmente, pela mesma via criava a si mesmo enquanto autor ou mais do que isso. As sagas líricas refletiam seu modo de desbravar a vida. Já adulto foi perdendo graduamente a visão até tornar-se totalmente cego, como alguns de seus ancestrais. Não sucumbiu à trágica perda. Via através de muitos meios, que dispensavam seus olhos doentes. Tinha o hábito de convidar pessoas a lerem para ele. Assim foi com o escritor Alberto Manguel (Buenos Aires, 1948), que na adolescência cumpriu esta função e vislumbrou o cotidiano de Borges. Partindo desta experiência escreveu um pequeno ensaio, “Com Borges”, em que descreve algumas de suas impressões sobre o quase mítico escritor. Uma recordação do que presenciou e um registro das marcas permanentes que tomaram feições de herança. Sensível, captou fragmentos interessantes que provavelmente influenciaram sua formação de romancista e maneiras de dar sentido à vida. Manguel é um apaixonado pelo que a literatura pode oferecer ao ser humano. E também pelo ser, capaz de ofertar literatura. As bibliotecas, em múltiplas acepções, como o foram para Borges, são-lhe essenciais. Ali há realidades que independem de indícios e evidências externas. E que merecem ser conhecidas, desveladas, re-veladas. E recriadas. Como em Borges.

Título da Obra: COM BORGES

Autor: ALBERTO MANGUEL

Tradutora: PRISCILA CATÃO

Editora: ÂYNÉ

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