NOITES FLORENTINAS

O Romantismo foi um movimento cultural surgido na Europa do final do século XVIII e que marcou diversas áreas da produção intelectual e política do século XIX. Pode ser também considerado uma modalidade de estética amplamente infiltrada num modo de ver o mundo nesse período. Seus elementos já existiam em momentos anteriores e nunca desapareceram completamente. Teve fases diferentes e, de certo modo, foi uma reação ao Iluminismo e aos modos mais racionalistas de compreender a vida. Não foi livre de contradições e tensões “internas”. Caracterizou-se pelo acirramento do individualismo, idealismo, valorização dos construtos imaginários que passaram a ter alguma independência da realidade factual, sentimentalismo, lirismo, valorização de ideias nacionalistas, heroísmo e alguma atrofia do engajamento pragmático às demandas da vida. As ideias de justiça e equidade adquiriram feições utópicas e foram propostas soluções que dispensavam a exequibilidade ou mesmo que ignoravam peremptoriamente indícios de aspectos cruciais do funcionamento dos seres humanos, que implicavam limitações desses construtos teóricos.  Heinrich Heine (Düsseldorf, 1797 – Paris, 1856) foi um escritor que em prosa e verso tornou-se um dos grandes expoentes dessa corrente. Foi chamado por alguns de “o último romântico”. Talvez, devido à ironia com que deu forma a seus escritos, denunciando indiretamente o escapismo que tanto coloriu o romantismo. Influenciou escritores de lugares distantes e teve relações próximas com pensadores influentes como Karl Marx. Nascido numa família judaica, converteu-se ao protestantismo alemão, mesmo não tendo sido um homem religioso. Possivelmente foi o criador da máxima “a religião é o ópio do povo”. Possivelmente temeu um mundo cuja hostilidade camaleônica atacava as minorias e aos comportamentos destoantes dos preceitos sociais. Nunca comportou-se heroicamente assumindo lutas que talvez julgasse perdidas desde a partida. Algumas vezes também usou modos simplistas de despertar a atenção para problemas que julgava relevantes, como as possíveis consequências da Revolução Industrial. Fez algumas generalizações quanto aos povos que julgou conhecer, como alemães, ingleses e franceses, que possivelmente considerava mais como instrumentos de sátira. Todavia, não primou pela transparência, neste sentido. “Noites Florentinas” é uma das poucas novelas que escreveu. Seu valor, para além do histórico, reside no fato de reunir tanto os elementos que tornaram-se emblema da literatura romântica (amores impossíveis de serem objetivamente experimentados, como por figuras tão ideais quanto uma bela escultura de mulher ou uma defunta) como, de modo quase oposto, desvelar com ironia discreta, destilada na narrativa, o ceticismo quanto aos exageros na idealização. O lugar da narrativa, frente às possibilidades da realidade, é algo que indiretamente cria contraponto ao que ele conta nesta novela. Há beleza formal na criação mítica das humanidades e espirituosidade no modo simultâneo de apontar sua fatuidade. Além da obra por si mesma, a edição (numerada) da Editora Carambaia é belíssima. Refinamento da arte gráfica. Uma ode ao livro em papel.

Título da Obra: NOITES FLORENTINAS

Autor: HEINRICH HEINE

Tradutor: MARCELO BACKES

Editora CARAMBAIA

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