HOPPER

Edward Hopper (Nyack, 1882-Nova York, 1967) foi um dos maiores artistas plásticos norte-americanos do século XX. A adjetivação  “realista” mostra-se um rótulo insuficiente e talvez inadequado. Com frequência  suas telas retratam cenas de interiores (de ambientes e de pessoas). Elementos arquitetônicos em coloração “limpa” capturam o olhar como uma armadilha na qual nos atiramos voluntariamente. Os tons claros não eliminam sentimentos sombrios que povoam os mundos de suas pinturas. Especialmente as variadas dimensões da solidão. Alguns vêm nele um expedicionário que viajou pelos recônditos da memória do homem urbano. O poeta, também norte-americano, Mark Strand (1934-2014), ganhador do Prêmio Pullitzer e professor da Universidade de Colúmbia viu mais e escreveu um bonito livro sobre o trabalho de Hopper. Ressaltou a força dos afetos como o aspecto dominante em sua produção sedutoramente figurativa. O “retratismo” social mencionado por certos críticos para interpretar a obra do artista é praticamente descartado nesta análise/homenagem. Strand compara a fruição de um quadro de Hopper com o resgatar de uma memória gerada por olhares passageiros que poderíamos dar através da janela traseira do automóvel de nossos pais movendo-se numa remota infância. Mas, a “realidade” nas cenas de Hopper pertence a um universo íntimo e singular. Há uma narrativa sem conexão obrigatória com os acontecimentos fatuais. As sensações nos guiam e misturam presente e passado, dele e nossos. Adicionam o observador às telas.  A materialidade do que vemos mescla-se à construções mais fluídas e amplas que compõe as memórias de todos nós, incluindo situações que não vivemos concretamente. Atualizamos um passado fora do tempo. Algo é iluminado. Nisto, não há ângulo que permita uma revelação inteira. Há que se apelar para a ficção. Strand não nos conta quase nada sobre a biografia deste pintor que custou a ser reconhecido, teve um período de sucesso, foi subsequentemente depreciado quando do surgimento do expressionismo abstrato de Jackson Pollock, Mark Rothko e Willem de Kooning e depois tornou-se referência definitiva na arte dos Estados Unidos e do mundo. O autor do livro respeita o recolhimento e discrição que caracterizaram a história pessoal de Hopper. Todo o foco está na obra. Na poesia dela. E convida-nos a experimentar poesias que podemos buscar na vida, através da arte.

Título da Obra: HOPPER

Autor: MARK STRAND

Editor: ALFRED A. KNOPF, “BORZOI BOOK”, USA

Abaixo foto de tela de Edward Hopper (“Reading a Book”, 1938)

Hopper

 

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1 comentário

  1. Luís, finalmente consegui chegar até aqui e me inscrever para receber notícias do seu blog. Vi que, além das resenhas sempre ótimas, há vários vídeos, vou voltar com tempo para assisti-los. Beijo, bom final de sábado.

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