UM HOMEM SINGULAR

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Christopher Isherwood (Stockport, Inglaterra, 1904-Santa Monica, EUA, 1986) foi um escritor que merece ser lembrado. Inteligente e refinado, soube discutir temas difíceis com profundidade e aparentemente sem demasiadas coações impostas pelo medo das consequências. Além disso, não era propenso a atacar com bandeiradas os leitores de convicções divergentes daquelas que contribuíam na constituição de sua identidade. Sua biografia rima com a obra. Muita coragem no difícil trânsito por uma sociedade rígida, comprometida com visões estereotipadas e preconceituosas. Sempre foi fiel a si mesmo, àquilo que nele era desejo e a seus valores. Não investiu energia em disfarçar a orientação homossexual, mesmo quando viver com normalidade era algo complicado para quem tivesse sua homossexualidade desvelada. Também não era voluntariamente ostensivo. Apesar de sua discrição, acabou por chamar atenção devido à ousadia de ser o que era. Naturalmente. Suas uniões amorosas com outros homens foram fartamente exploradas pela mídia, especialmente a mais duradoura delas, com Don Bachardy, que era trinta anos mais jovem do que ele. A força de sua ficção atraiu inclusive realizadores de cinema. Os filmes vencedores de Oscars “Cabaret” (de Bob Fosse, com Liza Minelli) e também “A Single Man” (no Brasil “Direito de Amar”, de Tom Ford, com Colin Firth e Julianne Moore) foram inspirados em romances de sua autoria. Observador sagaz do mundo em que viveu, destacou a incongruência entre o funcionamento das pessoas em sociedade e o que experimentam na intimidade. Olhou para tudo isto com ironia, mas sem a mesquinhez da maldade. Respeitou as fragilidades humanas. Levou-as a sério. Muito disso está presente no romance “Um Homem Singular”, publicado  em 1964. Nele vislumbramos a história do professor universitário George, através da janela de um único dia, situado no ano seguinte à morte de seu companheiro. O que Isherwood pretende dizer ou sugerir é matéria extensa. O tempo de referência tem mais importância estético-literária do que cronológica. A ação funciona somente como  balizadora. O personagem defronta-se com a solidão e a aridez provocada pelo apagamento ou ocultação corrosiva de sentimentos e vínculos afetivos mais autênticos, no intuito de garantir uma certa posição no mundo em que vivia. Os laços sociais mostram-se engessados por estereótipos e concepções rasas das gentes em seus universos. Não servem para a aproximação significativa entre indivíduos. Importam para a criação de cenários frágeis, patéticos. O autor atenta para o fato de que, mesmo com vestes diferentes, aquilo que limita e priva o protagonista também atinge os defensores da moral que cria ou faz sobreviver as normas rígidas e irrefletidas que regulam o cotidiano. Sagacidade com sutileza é uma tônica. Uma reflexão de relevância para todos os que se preocupam com dignidade, afeto e justiça nas relações entre pessoas. Não há vestígios de condescendência ou qualquer forma de pieguice. A franqueza do texto é vanguardista. Como a verdade.
Título da Obra: UM HOMEM SINGULAR (A SINGLE MAN)
Autor: CHRISTOPHER OSHERWOOD
Tradutora: FILOMENA DUARTE
Editora: QUETZAL (PORTUGAL)
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