EU SOU A ÁRVORE

Uma árvore pode ser muito forte, além de bela. Dá corpo à vida, que prefere ser etérea. Pode parecer indestrutível. Todavia, ela será engolida pela morte um dia. Desaparecerá. Por esgotamento da potência vivente nela contida, por não sobreviver a intempéries da própria natureza ou ainda pela ação do homem. O escritor português Possidónio Cachapa utilizou aproximações com a botânica para falar da força humana, que vista de perto é constituída de uma profusão de fragilidades imbricadas e travestidas para não assustarem por sua real natureza. Contudo, acaba por impor-se a verdade através das realidades insubmissas à vontade dos homens. Ainda assim, tal força, a humana, deve ser celebrada, pois contribui no girar do mundo, antes de fenecer, como tudo o que é apanágio dos vivos. Em “EU SOU A ÁRVORE”, Cachapa, que além de escrever romances também faz roteiros e trabalha com cinema, parece ter retornado às paisagens alentejanas de sua Évora natal, com fartura de sobreiros e oliveiras. De lá extrai os elementos necessários para traduzir os rasgos trágicos do esforço de quem tenta criar raízes e adquirir consistência. Cachapa lança luz aos processos pelos quais os sonhos de autonomia entram em colapso. Também denuncia o abismo que separa intenção e ato na interação com o outro. Enquadra a desconcertante debilidade que caracteriza o entrelaçamento das pessoas, mesmo quando os vínculos parecem frondosos. Desnuda construções que servem à ilusão de compreensão para exibi-las em sua futilidade. Conta a estória de um homem que deseja ser forte. Um homem que sorve a vida na seiva de sua família. Alguém que olha atentamente para a complexidade dos ligações entre os parentes e percebe sua precariedade. Fala, com tocante sensibilidade, de temas que habitam universalmente os bosques humanos. O linguajar é dotado de um tipo de poesia que só os portugueses podem produzir. Talvez uma das essências do fado. A leitura é fluida e enche de prazer aqueles que querem e podem ouvir a música das palavras usadas para frasear o que talvez não possamos dizer inteiramente.
Título da Obra: EU SOU A ÁRVORE
Autor: POSSIDÓNIO CACHAPA

Editora: COMPANHIA DAS LETRAS (Ramo da Penguin em Portugal)

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