TIRZA

Jörgen Hofmeester é um homem perdido num espaço em que não são claros regras e sentidos. A racionalidade parece dissolver-se. Há o temor de não haver nenhuma. Os recursos dele revelam-se parcos. Delimitar os territórios em que se move parece tarefa impossível.. Aflito, ele não encontra distinções suficientes entre a animalidade humana e as marcas da civilização. Hofmeester é o personagem central da obra de Arnon Grunberg, “Tirza”. O mensageiro do autor. O nome do romance é o de uma das filhas do protagonista. Aquela de quem ele espera obter os referenciais para a construção de uma ordem no pensar e agir. Mínimos, mas imprescindíveis para sua sobrevivência. As dificuldades de compreender os mecanismos do mundo são grandes, enigmas que não param de assalta-lo. Seu microcosmo é caótico, mesmo quando não parece. Para começar não há a alteridade suficiente na relação entre pai e filha. Reconhecer o outro parece algo ameaçador e é evitado.  Os membros da família Hofmeester, que inclui outra filha e a esposa, vivem ilhados entre si. Revelam-se estranhos uns aos outros quando é rompido o delicado verniz das convenções. As interações entre eles beiram a bizarrice, esbarram-se como que acidentalmente em quase todo o decorrer da trama. Os relacionamentos reproduzem certa obscuridade e errância que, no início do novo milênio, desafiam as compreensões da realidade. Conviver implica ônus imprevisíveis. Pouco depois do 11 de Setembro a brutalidade das relações entre pessoas, religiões e países tornou-se gritante. A violência uniformizou diferentes linguagens em enredos diversos. E isto constitui o mote real do livro deste holandês que desde o início da carreira de escritor vem fazendo sucesso. Em seu lançamento, a imprensa apontou o humor e o suspense em  “Tirza”. Mas a tensão é sutil e o humor pode aterrorizar. Todavia, apesar do livro tratar de questões áridas, tem leveza. Um talento a mais de Grunberg.  A estória é apresentada de modo direto e simples. É sedutora. Os difíceis temas que carreia nunca são servidos crus. São bem elaborados, polidos para poderem atravessar as frestas da narrativa. Instigam.  O autor não oferece propostas sobre o que deveria ser feito para que algo fosse melhor ou mesmo interpretações explícitas sobre motivações do que já é fato. Aparecem somente ideias desconcertantes sobre as dimensões trágicas da contemporaneidade. E não só dela, aos poucos a sugestão de tragédia funde-se ao que pode ser chamado genericamente de destino humano, de modo atemporal. Muito original. E moderno (talvez um pouquinho pós).
Título da Obra: TIRZA
Autor: ARNON GRUNBERG
Tradutora: MARIÂNGELA GUIMARÃES

Editora: RÁDIO LONDRES

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