A AMIGA GENIAL

Por mais que se pretenda uma equalização entre homens e mulheres, esta somente pode se dar em termos da promoção da justa igualdade de condições e oportunidades para todos os gêneros, nas sociedades do mundo. De resto, tanto os polos masculino e feminino, quanto as variantes intermediárias parecem ter características próprias, que constituem uma realidade para além dos determinantes históricos e sociais, apesar da influência deles. Aceite-se a diversidade. Posto isto, valem as discussões sobre múltiplas peculiaridades na descrição e processos de afirmação dos gêneros, que fazem parte da construção dos mosaicos identitários dos seres humanos. Neste amplo universo temático é instigante a complexidade da dinâmica de interações entre mulheres. Excluídas as abordagens folclóricas, primárias e as preconceituosas, o assunto pode ser convertido em abordagem sofisticada. E é o que faz Elena Ferrante (escritora sobre a qual não há dados biográficos disponíveis) no bom livro “A Amiga Genial”. Este, tornou-se um “best-seller” internacional, o que contribui para afastar dele os leitores mais exigentes, mas neste caso o sucesso de vendagem não deve ser levado em conta para considerações sobre a qualidade literária deste e dos outros volumes de “A Série Napolitana”.

“A Amiga Genial” é o primeiro volume de quatro deste longo e saboroso romance. Texto muito bem urdido, com frases de estrutura simples e elegante para tratar de questões complexas. A estória, que nos chega através da voz de uma das amigas da dupla, é envolvente. O cenário é um bairro pobre de Nápoles no pós Segunda Guerra Mundial. Todavia, embora aspectos históricos permeiem a trama, o fundamental são os jogos psicológicos mais íntimos, delicados, e labirínticos das personagens. Aqui vemos o retrato da infância e adolescência das protagonistas.

Mesmo que um dia venhamos a saber que Elena Ferrante é um homem e não uma mulher (o que acho difícil), só teremos mais à admirar, pois, se assim for, tal homem demonstra grande competência e sensibilidade para usar um tipo de “lente feminina” ao observar o mundo.

Título da Obra: A AMIGA GENIAL

Autora: ELENA FERRANTE

Tradutor: MAURÍCIO SANTANA DIAS