Apesar das definições variarem um pouco, o populismo pode ser considerado um tipo de estratégia de ação política. Nela um líder apela para certo tipo de vinculação direta e primária com o povo, em que falsas aparências têm grande peso. Usa promessas sedutoras, agradáveis à maioria, mas muitas vezes distantes das possibilidades de realização. Evita a exposição de problemas complexos, que demandem medidas mais “duras” para sua resolução. Esconde-os ou apresenta projetos para resolve-los que não causam rejeição popular, mas que já é sabido de antemão que não são soluções exequíveis. O líder busca tornar-se algo mítico e isto contribui para que aumente seu poder. Se bem sucedido, consegue que lhe atribuam capacidades e qualidades também míticas, distantes da realidade objetiva. Deixa de ser questionado ou passível de crítica. Há uma minimização da importância do sistema político administrativo em sua complexidade ou o controle preponderante e disfarçado de suas instâncias é exercido pelo líder populista e seus apoiadores. As dificuldades reais são camufladas também neste setor. É comum haver anulação de compromissos partidários e de campanha, anteriormente assumidos. Muitas vezes há esvaziamento deliberado do papel funcional das instituições que sustentam as democracias representativas: a divisão do poder é falaciosa é frequentemente há “aparelhamento” do poder judiciário e das casas parlamentares. O povo é, na verdade, transformado em “massa”, manobrável de acordo com a vontade, ou os projetos da liderança. Cria-se a ilusão de que a população torna-se mais poderosa por uma aparente proximidade com o líder. O poder fica, na verdade, concentrado na pessoa (ou pequeno grupo) que lidera e que se visa atender a seus interesses específicos e não às necessidades e demandas da população. Os formatos populistas de liderança têm sido empregados em diferentes vertentes ideológicas, tanto pelas chamadas esquerdas como pelas direitas. É comum entre radicais. Populistas não valorizam questões éticas. Buscar e demonstrar o que é verdadeiro não é um princípio. A corrupção em suas várias formas é aceita como “parte do jogo”. É fundamental submeter e controlar ao máximo a sociedade. O apelo sentimentalista é amplamente utilizado. A carência de recursos materiais para uma vida minimamente satisfatória, a precariedade de formação escolar e restrições ao acesso livre à informação de boa qualidade, no que se refere à população, facilitam o sucesso dos líderes populistas. O controle da educação e da imprensa são bastante importantes para que o projeto populista funcione. A propaganda utilizada em campanhas políticas e durante períodos de governo torna-se fundamental. Por outro lado, a revolução tecnológica nas formas de comunicação direta entre as pessoas propiciada pelas mídias eletrônicas (em que pese a existência de distorções e informações francamente mentirosas) vem contribuindo para maior autonomia dos indivíduos e populações, tanto para se informarem como para agirem. Isto pode representar um empecilho aos estratagemas populistas. Vale sempre ressaltar que todas as modalidades de populismo são inimigas das formas legítimas de democracia.
Abaixo: Tela de Ernani Pavaneli, acrílico sobre tela, 80x60cm: “Multidão”