Alexander Púchkin (1799-1837) é uma das grandes referências da literatura russa. Foi inovador ao usar a linguagem vernacular como legítima expressão literária. Pretendia abordar com autenticidade formal temas que refletiam os problemas que seus compatriotas realmente experimentavam. Abordou o modo russo de comportamento e de visão de mundo do tempo em que viveu como uma forma de estética. Foi um importante ator cultural pela capacidade de enxergar com amplidão e coragem de criticar vividamente as injustiças e outros problemas que testemunhou e por isso, durante algum tempo, teve que se desterrar para escapar de perseguições da polícia czarista.
Púchkin inspirou muitos dos grandes escritores de seu país e de outros lugares, como Dostoivesky, Toslstói, Turguêniev e Gogol. Também foi o farol para Serguei Dovlátov (1941-1990) no romance Parque Cultural, publicado em 1983. Dovlátov, que pensava e produzia na contramão do establishment soviético, não conseguia publicar o que escrevia e acabou por emigrar para os Estados Unidos na década de setenta do século XX.
“Parque Cultural” narra a estória de um escritor mal sucedido que se torna guia turístico em Mikháiovskoie-Trigósrkoie, local em que viveu e está enterrado Alexander Púchkin. O modo como os governantes usam esse território monumental, a forma como é “consumido” por seus visitantes enquanto patrimônio cultural e o que se passa com os que nele trabalham são material para a construção do romance e veículo para manifestação crítica do autor. Ele evidencia conexões intelectuais e éticas com seu inspirador, de quem este “parque” tornou-se santuário moldado às conveniências do Estado, maculando o sentido que Púchkin imprimiu à sua vida e obra. Dovlátov ironiza e caricatura a hipocrisia da intelligentsia da URSS no trato com a cultura. Aponta para o distanciamento entre a criação mítica em torno da obra do grande escritor e suas autênticas motivações. Se vivo fosse, possivelmente Púchkin não faria “vistas grossas” para certas precariedades na vida real da população soviética. Há relevo para um tipo de rudeza que passou a caracterizar de modo crescente as pessoas do povo, alijadas da liberdade de pensamento e expressão. Este romance alude à deformação intencional do patrimônio histórico-cultural, em sentido amplo, para uso doutrinário. Reprova o modo de proceder das lideranças soviéticas ao denunciar as consequências de suas políticas culturais. Um certo toque grotesco dá tom ao texto, em consonância com o cenário que, antes destinado a ofuscar, o autor pretende desnudar.
“Parque Cultural” narra a estória de um escritor mal sucedido que se torna guia turístico em Mikháiovskoie-Trigósrkoie, local em que viveu e está enterrado Alexander Púchkin. O modo como os governantes usam esse território monumental, a forma como é “consumido” por seus visitantes enquanto patrimônio cultural e o que se passa com os que nele trabalham são material para a construção do romance e veículo para manifestação crítica do autor. Ele evidencia conexões intelectuais e éticas com seu inspirador, de quem este “parque” tornou-se santuário moldado às conveniências do Estado, maculando o sentido que Púchkin imprimiu à sua vida e obra. Dovlátov ironiza e caricatura a hipocrisia da intelligentsia da URSS no trato com a cultura. Aponta para o distanciamento entre a criação mítica em torno da obra do grande escritor e suas autênticas motivações. Se vivo fosse, possivelmente Púchkin não faria “vistas grossas” para certas precariedades na vida real da população soviética. Há relevo para um tipo de rudeza que passou a caracterizar de modo crescente as pessoas do povo, alijadas da liberdade de pensamento e expressão. Este romance alude à deformação intencional do patrimônio histórico-cultural, em sentido amplo, para uso doutrinário. Reprova o modo de proceder das lideranças soviéticas ao denunciar as consequências de suas políticas culturais. Um certo toque grotesco dá tom ao texto, em consonância com o cenário que, antes destinado a ofuscar, o autor pretende desnudar.
Título da Obra: PARQUE CULTURAL
Autor: SERGUEI DOVLÁTOV
Tradução: YULIA MIKAELAN