A palavra cultura, como qualquer outra, pode ter diferentes significados, dependendo de referenciais e do contexto em que é usada. O Dicionário de Filosofia de Nicola Abbagnano destaca dois destes sentidos: o processo de formação do intelecto no ser humano e os produtos resultantes deste processo, que se tornam patrimônio dos indivíduos e sociedades. Nesta acepção os humanos são os únicos viventes capazes de construir culturas. Aí reside parte do que denominamos humanização. A formação cultural e as condições criadas em torno disso podem ser vistas como correlatos do que chamamos de processos civilizadores (mesmo que civilização implique mais tarefas do que as contidas na cultura). Os gregos chamavam isto de “paidéia” e os romanos de “humanitas”. Entre as várias questões sobre o fenômeno da cultura está a de sua origem. Já foi vista como algo quase independente da biologia e do corpo, até como sua antítese. Com o avanço do conhecimento em neurociência e estudos mais acurados no campo social, cultura e natureza tornaram-se indissociáveis, tanto na geração como na evolução. Natureza não pode mais ser vista como um contrário de cultura. Também é importante considerar o fato de que há muita diversidade cultural quando levamos em conta as sociedades de regiões distintas do planeta. Vale pensar na multiplicidade de fatores que determinam tais diferenças. É quase sempre difícil descreve-los como elementos isolados e bem definidos. Observa-se que existem funções comuns a todas as culturas e talvez uma das mais significativas seja a necessidade de interação entre pessoas e grupos. Há que se estabelecer padrões normativos para tornar a convivência possível e benéfica. Os diferentes grupos sociais e, de modo mais amplo os povos, estabelecem normas próprias, modificáveis ao longo do tempo. As culturas abrigam muitas dimensões distintas, mas que se interligam e podem até fundir-se, como as crenças, a moral, os costumes, história, conhecimento científico, arte, religiões, política e mais. São formadas através da articulação destes vários elementos, que passam a caracterizá-las e são sua “materialidade”. Qualquer Cultura está em contínua transformação, em consonância com a vida. O desenvolvimento das tecnologias de comunicação tem contribuído muito para aumentar a velocidade das modificações culturais. Há o que se se dissolve, o que se reconstitui, o que se perde definitivamente e o que se cria. Há complexidade. Também vale ressaltar que na relação entre indivíduo e sociedade o que faz parte da cultura, as separações e definições são muitas vezes artifícios didáticos. As interações entre indivíduos e coletividades, causa e consequência da cultura, são plásticas e transitórias, ganhando contornos diferentes com o passar do tempo. O imprevisível pode ocorrer a qualquer momento e importa cultivar a flexibilidade, juntamente com o fomento da reflexão crítica, tolerância e respeito na busca de funcionamento ético, para que pessoas e sociedades vivam melhor.
Abaixo foto de escultura em cerâmica de Beth Novi, da série “Cidade Derretida”
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