DIREITA, ESQUERDA, E DERIVADOS: RELEVÂNCIA

Os primeiros sentidos para as designações “Direita” e “Esquerda” talvez tenham surgido na França durante o período imediatamente anterior à Revolução Francesa. Na Assembleia Nacional sentavam-se à direita do rei a nobreza, o clero e seus apoiadores e à esquerda os representantes populares, em grande parte defensores dos interesses burgueses e até certo ponto solidários, naquele momento, com as camadas desfavorecidas da população em suas terríveis mazelas. Posteriormente apareceram também as adjetivações “Centro” e outras que denotavam gradações variadas dos que não aderiam aos extremos.  
Como de hábito, as pessoas tendem a ir repetindo termos e conceitos mesmo quando já não há precisão no que querem dizer, muitas vezes passam a dar-lhes sentidos quase particulares. Atualmente discute-se muito a validade de os indivíduos e grupos abrigaram-se nas “etiquetas” Direita e Esquerda para afirmarem o que pensam e fazem. A evolução dos conceitos que compõem as ideologias e dos contextos em que se dão os “jogos” políticos levou a tantas mudanças, sofreu impactos da complexidade das relações sociais, teve que comportar tanta diversidade e tão rápidas alterações de cenários, que talvez não seja mais apropriado resumir a qualificação do pensamento ou discurso e da ação política, pessoal ou coletivamente, usando os termos como “esquerda”, “direita”, etc, que se tornaram demasiado simplistas e frequentemente pobres em conteúdo. A cultura política está se transformando aceleradamente em função de exigências das realidades, o que torna cada vez menos cabíveis os reducionismos. Rótulos são frequentemente embustes. Funcionam mais como instrumentos toscos de evitação dos debates sérios e produtivos.
Há muita polêmica entre teóricos das ciências sociais e políticas sobre a importância de se continuar usando as categorizações nascidas no século XVIII. Alguns consideram-nas ultrapassadas e inúteis, quando não deletérias. Outros vêm sentido em sua preservação e constante revisão.  Uma mesma pessoa ou sociedade podem sustentar modos de pensar e agir simultaneamente em consonância com maneiras passíveis de serem designadas como de esquerda, de direita ou de variantes, em relação a questões distintas (se optarmos por usar as definições convencionais).  
Não valem a pena as cristalizações e fidelizações irrevogáveis. Talvez seja mais relevante esperar que indivíduos e grupos definam com clareza seus valores, projetos, desejos, concepções de mundo e, especialmente, que pratiquem ações coerentes com o que dizem, do que o “encaixotamento” em qualificações limitantes e ilusórias. Vale reforçar que não há aqui pretensão de diminuir a importância de as pessoas afirmarem o que creem ser justo, injusto, certo, errado, prioridade/não prioridade, para si mesmas e para as sociedades em que vivem. Isto é fundamental.  Assim como é imprescindível a revisão incessante daquilo em que se acredita ou que se defende. Além disso, não se pode deixar de estar sempre avaliando criticamente os resultados objetivos de atos decorrentes de ideais ou concepções teóricas. Rever com frequência crenças e valores é um exercício ético.

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