RETRATO DE UMA SENHORA

Henry James, escritor nascido nos Estados Unidos em 1843, viveu grande parte de sua vida na Inglaterra e lá morreu idoso e naturalizado inglês. Foi muito prolífico em seu trabalho. Escreveu 21 romances e cerca de cem narrativas mais breves (contos e novelas). Entretanto, mais do que a volumosa produção importa a magnífica qualidade literária de sua obra, cuja marca é um tipo de sofisticação rara. Ele conseguiu associar beleza e precisão formais à agudeza de percepção das expectativas e frustrações nos relacionamentos interpessoais, seu tema principal. Há muito requinte na construção dos textos, forma e conteúdo são congruentes e complementares para que ele diga com rigor o que pretende. O supérfluo é sempre dispensado, mesmo quando ele fala extensamente. Tudo o que foi escrito merece ser lido. Tanto nos romances mais caudalosos quanto em seus contos ele é fiel a seu estilo. Pragmático, mesmo quando sua sutileza produz no leitor desatento a impressão contrária. O refinamento não tem afetação. Escreveu para ser apreciado por gourmets dispostos a investir tempo e capacidades diversas, em concerto, durante a leitura. “Retrato de uma Senhora” é considerado seu melhor romance. Como em vários de seus trabalhos a mulher é o destaque. Isabel Archer, protagonista desta estória, é descrita por um de seus cunhados como uma mulher “escrita em língua estrangeira”, exótica. Alguém que não se presta a traduções rápidas ou fáceis. Talvez, inclusive por isso ela tão bem represente o espírito feminino. No início da trama Isabel, pouco abastada, recebe uma grande herança de um tio. Uma vez enriquecida, propõe-se a levar a cabo seu maior projeto de vida: manter-se livre. Algo nada fácil. Um grande desafio, num tecido social em que era esperado da mulher que se casesse e cumprisse um papel sem máculas de singularidades e desejos íntimos, com submissão consentida ao homem e às convenções do comportamento. Tais concepções contribuíam para definir o “bom gosto” no final do século XlX. A personagem rejeita sucessivamente diversas propostas de casamento. Segue movendo-se em contraponto com uma amiga, Madame Merle, como numa dança ou num jogo. Como James não era dado a simplificações para falar da vida com autenticidade, o percurso de Isabel vai se tornando tortuoso, rebelde aos desígnios dela através de eventos em que não é senhora. Descobre-se assujeitada às leis maiores superiores a sua vontade, depara-se com o fato de que desejar e planejar não implicam necessariamente realizar. Nem mesmo todos os recursos de que dispõe, como a beleza, o dinheiro e a inteligência são suficientes para alcançar a liberdade idealizada. Ela, portadora involuntária do imprevisível e incontrolável, age em descompasso com o que pretendera, desvirtuando o projeto original de sua vida. Emaranha-se na complexidade do mundo. O autor guia-nos até que possamos experimentar na ficção uma dimensão da verdade que também está em nossas realidades. Um livro para quem se interessa por joias autênticas. E muito preciosas.
Título da Obra: RETRATO DE UMA SENHORA
Autor: HENRY JAMES
Tradução: GILDA STUART

 

Editora: COMPANHIA DAS LETRAS
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