PORT MUNGO

Há pessoas que dependem de estímulos intensos e variados  para atravessarem a vida. Talvez seja um recurso para cumprir a difícil tarefa de criar sentido para ela. Isso também pode ser um modo de expressão da angústia que atormenta os seres carentes daquilo que é impossível obter no que efetivamente se vive. Nos extremos da vigência dessa condição geralmente não se admitem permanências longas, tanto nos espaços geográficos quanto nas relações afetivas. Parece ser preciso um transitar contínuo. Qualquer elemento que sirva de referência para a construção de uma história pessoal está sempre às vésperas de ser descartado. A intensidade de fruição exige movimentos cada vez mais dramáticos. Movimentos estes, como norma, mal sucedidos quanto a cumprir seus desígnios. O vislumbre da futilidade dos jogos a que certos indivíduos não cansam de se lançar desespera-os, pois temem ser sugados pelo vazio. As coisas tendem a ser piores para os que insistem obsessivamente em descobrir essências (indecifráveis) e consistências robustas na existência humana. Neste contexto o escritor britânico Patrick McGrath (Londres, 1950) criou os personagens Jack e Vera no romance Port Mungo. Eles são um casal de excêntricos sentindo o tempo todo o desconforto  causado pela da fatuidade de suas escolhas. Inclusive a de um pelo outro. Muito fazem para escapar do sofrimento que tem origem em fontes obscuras e incontornáveis. Não podem. Sucumbem. Cada um a seu modo. Nem a arte, que acaba por também ser personagem, cumpre a função de salvadora. Apesar de tudo o que há de sombrio e trágico nessa estória, McGrath tem o talento de saber conta-la bem e isto faz da leitura uma viagem atraente, mesmo que rume para destinos perturbadores.

Título da Obra: PORT MUNGO

Autor: PATRICK McGRATH

Tradução: CELSO NOGUEIRA

Editora: COMPANHIA DAS LETRAS

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