Como psiquiatra, uma das áreas em que trabalhei foi junto a populações transgênero, especialmente quando tinham como demanda passar por processos de transformação corporal que envolvessem intervenções médicas, como hormonização e cirurgias. Muito me orgulho de ter contribuído para a tentativa de compreender pessoas variantes quanto à identidade de gênero e de fazer parte de equipe multidisciplinar que se ocupava (e ocupa-se ainda) em criar condições para que esta população torne-se visível, respeitada e receba cuidados adequados a suas demandas. Uma das maneiras de respeitar e ajudar as pessoas transgênero é informando a sociedade sobre o assunto e apontando para a necessidade de combater preconceitos. Isso é assunto muito vasto e que às vezes gera polêmicas. Dentre muitos esclarecimentos, vale tentar desfazer uma confusão frequente: aquela entre identidade de gênero e orientação sexual. Não são a mesma coisa. Identidade de Gênero diz respeito à auto-percepção de uma pessoa quanto a ser homem, mulher, uma mistura de ambos ou nenhum. Atualmente reconhece-se a existência da não binaridade de gênero como mais uma variante identificatória. Adicionalmente, a identidade de gênero além da percepção que a pessoa tem de si mesma implica o modo como a família e a sociedade a reconhecem. O gênero, inicialmente é designado em consonância com o sexo anatômico ao nascimento, mas reflete um conjunto de fenômenos muito mais amplos do que os determinados pela genitália e características sexuais secundárias. A incongruência de gênero é o termo utilizado para caracterizar pessoas que não se sentem confortáveis ou referem sofrimento por viverem de acordo com o gênero designado ao nascimento. Desejam e precisam manifestar com liberdade o que sentem ser, deixando de se abrigar em identidades “falsificadas” para terem algum trânsito social. Orientação Sexual: refere-se ao sexo do outro (podemos chamar de “objeto” de desejo sexual) capaz de despertar atração, fantasias, ou com quem a pessoa tem relações sexuais. Uma pessoa pode sentir-se sexualmente atraída somente por outras do sexo oposto (heterossexuais), somente por outras do mesmo sexo (homossexuais), a atração pode ser significativa por ambos os sexos (bissexuais) e, se não têm atração por sexo nenhum (geralmente não têm atividade sexual, e é bastante raro) são denominadas de assexuais. Muito importante frisar que as pessoas não “escolhem” sua identidade de gênero e nem a orientação sexual. São o que são por razões que ainda não são bem compreendidas, mas que possivelmente envolvem sua constituição biológica. Não há opção quanto a isso. Uma pessoa pode somente optar entre manifestar ou não o que sente ser ou entre exercer ou abster-se quanto à atividade sexual da qual gosta ou necessita, o que frequentemente acarreta grande sofrimento. Geralmente este “apagamento” de aspectos tão importantes tem relação com o temor da exclusão e hostilidade social. Além disso, uma pessoa transgênero pode ter qualquer um dos tipos de orientação sexual descritas, ou seja, não são condições inter-determinantes. Vale lembrar que muito mais há para se saber sobre identidade de gênero e orientação sexual, mas que o mais fundamental é que se saiba que são possibilidades da vida humana e que, ao nos livrarmos de crenças errôneas e preconceitos temos mais chances de ser pessoas melhores e de contribuir para a existência de um mundo mais justo.
IDENTIDADE DE GÊNERO E ORIENTAÇÃO SEXUAL: CONCEITOS DISTINTOS

Fantástico seu comentário e sua interpretação sobre o assunto parabéns pelo lançamento do blog
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Muito bom /Amei
Bem esclarecedor💋
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Obrigado pelo comentário Marcella
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Simplesmente fantástico. Excelente colocação. Parabéns
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Muito obrigado Paulo Augusto
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Considero de suma importância essa postagem. É fundamental que essas discussões chegam ao maior número de pessoas. A sociedade , que por vezes, concebe um único padrão de existência acaba colocando Identidade de gênero e Orientação sexual, como sinônimos. Esse desconhecimento junto com um modelo individualista de sociedade aprofunda o preconceito, aumenta a intolerância e o resultado é a violência com a população LGBTQI+ . Muito bom , Justo.
Lênin Viana
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Muito obrigado por seu comentário Lênin
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Olá. Sou um garoto trans. Me descobri um pouco mais de dois anos.
Ao me descobrir um menino, conscientemente, ao mesmo tempo tive que desconstruir muitos padrões da sociedade. Pq aí vc acaba ficando de outro lado, tentando seguir padrões que a sociedade impõem ser um homem. E logo me deparei que não precisava seguir nada e buscar nada disso. Apenas ser quem eu sou. Do jeito que eu sou. E nada vai mudar como eu me vejo por dentro, como eu identifico meu próprio gênero.
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Muito obrigado pelo comentário Thomas
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Me alegro muito em saber que temos profissionais tão competentes,dedicados e éticos como o doutor Justo. Hoje vejo profissionais desta área misturando política,religião,identidade de gênero….Isso só contribui em demonizar e excluir uma classe tão sofrida,que luta apenas por respeito e igualdade.
Sou homem trans e me considero privilegiado em ter minha transição acompanhada por profissionais tão capacitados,e sensíveis a entender e desvendar as aflições de seus pacientes.
Obrigado doutor Justo pelo post esclarecedor.
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Muito obrigado por seu comentário Renato
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Isso me ajudou a entender muito sobre o meu caso … Muito bem explicado …
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Obrigado pelo comentário Carla
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Gratidão, Dr Luis!
Seu texto sobre identidade de gênero e orientação sexual – conceitos e diferenças – está bem claro e me ajudou muito. Parabéns pelo excelente trabalho! Esse é um tema muito pertinente, visto que a população trans no Brasil (umas das maiores do mundo) ainda sofre com discriminação, desinformação e violência de toda espécie.
Abraços.
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Muito obrigado pelo comentário Paula
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Bom é compartilhar esse texto com mais e mais pessoas. São tantos dogmas e tabus relacionados ao universo trans na cabeça de tantos que, seriam extintos diante da explicação tão clara, simples e genuína como o seu texto esclarece.
Dr. Justo, obrigada pela sensibilidade e engajamento social!
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Muito obrigado pelo comentário Ana Elise
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