A honestidade para reconhecer as próprias limitações num dado momento e a preocupação em questionar até onde os saberes adquiridos podem capacitar o indivíduo para agir corretamente na realidade objetiva é algo inerente à formação moral de cada um. Isso vale para questões diversas tanto na intimidade quanto nas relações sociais. No exercício de algumas profissões as complicações em torno disso podem ser mais vívidas do que em outras, como no caso dos médicos. A consciência dos riscos envolvidos pode implicar aflição. Mikhail Bulgákov (Kiev, Ucrânia, 1891 – Moscou, Rússia, 1940), médico que também se dedicou ao jornalismo e atividade literária escreveu sobre a inquietação inevitável dos que não se furtam a refletir sobre a insuficiência do conhecimento objetivo, assim como da falibilidade das crenças, diante da complexidade da vida.
“ANOTAÇÕES DE UM JOVEM MÉDICO E OUTRAS NARRATIVAS” reúne um conjunto de contos vinculados entre si que compõem o primeiro título, também inclui uma pequena novela intitulada “MORFINA” e mais um conto independente, “EU MATEI”. Todos são narrados por um médico. Nos contos do primeiro título um recém-formado fala sobre assaltos de insegurança ao narrar casos sobre seu trabalho numa aldeia quando era ainda muito inexperiente e revolvia-se dolorosamente entre dúvidas e temores ao deparar-se com problemas reais ou imaginados dos pacientes que atendia. Sentia-se dividido entre a paralisia imposta pela ignorância do que era preciso saber e uma espécie de automatismo com que arriscava agir e em que não se reconhecia claramente como autor do que fazia, mas como um engenho mecânico movido pelas circunstâncias. Bulgákov põe em jogo duas modalidades de contradições: as internas do indivíduo e aquelas notáveis no tecido social devido às diferenças entre pessoas e que são geralmente de difícil conciliação quando elas interagem.
Em “MORFINA” a trama é protagonizada por dois colegas de faculdade separados depois da graduação, que se reencontram quando um deles torna-se dependente da droga que usava como analgésico. O autor destaca a impotência daquele que se transforma em vítima dos efeitos imprevistos ou impensados de um conjunto de ações que pratica, como fatalidade inerente à perda de controle e o surgimento de consequências danosas inevitáveis.
“EU MATEI” difere das outras estórias por ser mais explícita politicamente ao falar da truculência opressiva de um governo despótico e da reação do oprimido quando a ocasião se apresenta.
Mikhail Bulgákov é mais conhecido por um romance lançado postumamente, “O MESTRE E MARGARIDA”. Teve dificuldade em publicar na URSS porque a partir de certo momento passou a ser considerado um escritor fora de alinhamento com o regime e uma voz da burguesia, alguém que fazia arte pela arte, sem o engajamento doutrinador requerido pelas autoridades socialistas. Posteriormente foi “resgatado” e hoje é cultuado como um dos maiores escritores da antiga URSS na primeira metade do século XX. Pode ser interpretado de modos diferentes através das diversas camadas de significação no que escreveu. Vale ressaltar seu respeito pelo pensamento crítico num contexto em que isso era algo criminalizável e a importância que deu à relação do homem com a informação tomada como evidência e com as crenças, erigidas espontaneamente ou sustentadas sob coação do estado totalitário. Tratou do aprendizado como uma tarefa incessante e que demanda coragem para ir além da aceitação automática do que é ensinado e da necessidade de verificação constante da autenticidade e aplicabilidade do que é tomado como verdadeiro. Nesse bojo, os desafios impostos pela realidade devem funcionar como um estímulo à revisão e reconstituição de saberes.
Título da Obra: ANOTAÇÕES DE UM JOVEM MÉDICO E OUTRAS NARRATIVAS
Autor: MIKHAIL BULGÁKOV
Tradutora: ÉRIKA BATISTA
Editora: 34

Dr Luís , bom dia. Tudo bem? Preciso muito falar com o Sr sobre meu laudo psiquiátrico. Me pe dar seu ctt fone ou e-mail. Por favor! Aguardo um retorno. Grata!
Enviado do meu iPhone
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Bom dia
Não trabalho mais no CRT e não posso tomar nenhuma medida quanto aos laudos. Há um profissional responsável pela posição que eu ocupava e é quem poderia ajudá-la
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