Saber contar uma estória longa e manter o leitor vivamente interessado no que ela trará é um talento dos bons escritores. A coreana Min Jin Lee (Seul, 1968) mostrou em “Pachinko” que tem este dom. Faz lembrar alguns dos grandes romancistas do século XIX, como Charles Dickens e George Eliot. Narra uma saga que se desenrola ao longo do século XX através de várias gerações de uma família de coreanos. A protagonista inicialmente vive na Coreia natal, colonizada pelo Japão e depois imigra e tem seus descendentes em terras japonesas. Este período, que abarca a Ocupação Japonesa da Coreia (1910-1945) as duas Grandes Guerras Mundiais (1914-1918 e 1939-1945) e Guerra da Coreia (1950-1953) foi de grande sofrimento para o povo coreano. Muitos imigraram, especialmente para a nação colonizadora. No Japão eram discriminados como um povo inferior, considerados atrasados culturalmente e debilitados moralmente, tratados com desprezo e segregação e trabalhando em subempregos, recebendo salários sempre muito menores do que os nativos. Esta situação durou por muitas décadas e moldou a mentalidade das pessoas por décadas. Os imigrantes coreanos e seus descendentes eram conhecidos pelo termo “zainichi” e eram vistos como estrangeiros em solo japonês mesmo que já fossem a quinta geração (inclusive legalmente). Quando tentavam retornar à Coreia eram também discriminados lá. Se fossem para a Coreia do Norte acabavam desaparecendo, tragados pelo restritivo e mesmo cruel regime comunista, em vigor até o presente. Lee trata deste tema de modo tocante especialmente por fazer o leitor penetrar a narrativa e sentir com os personagens a abrasividade da convivência (des)humana a que se viram obrigados. Em essência isto costuma ocorrer universalmente nas mais diversas culturas e geografias, mas aqui tem matizes asiáticos menos familiares aos que vivem deste lado do planeta. Ocidentais que tendem a idealizar orientais (talvez o reverso da medalha xenofóbica) podem perceber neste romance que, ao contrário do que poderiam imaginar, estão todos irmanados para além dos hemisférios. Incluindo aspectos bastante indesejáveis, para quem pretende cultivar a civilidade. Mesmo não alcançando a excelência literária dos citados Dickens ou Eliot, a autora não perde para eles na habilidade de transportar e envolver o leitor. Com sorte, promove reflexão. Com mais sorte ainda, transformação de mentalidades.
Título da Obra: PACHINKO
Autora: MIN JIN LEE
Tradutora: MARINA VARGAS
Editora: INTRÍNSECA
