A VERDADEIRA VIDA DE SEBASTIAN KNIGHT

Vladimir Nabokov (São Petersburgo, 1899 – Montreux, 1977) interessava-se por aquilo que determinava o comportamento das pessoas e a matéria de que eram feitas suas identidades. Com a mesma intensidade, refletia sobre o modo de tratamento dado por diversos intelectuais para os problemas surgidos nos percursos de construção de saberes nesta área. Revelou descrédito em que o mundo, por si só, pudesse formatar um indivíduo e que este fosse fruto exclusivo de seu meio e de seu tempo. Valorizou a singularidade, os aspectos próprios de cada um para ser o que é. Suspeitou de que haveria fatores inatos. Todavia, não afirmou categoricamente origens e causalidades. Considerava os seres humanos como unidades complexas e complicadas, pois estavam em constante transformação e jamais eram passíveis de descrições precisas e totalizadoras. Nunca menosprezou as forças do acaso nem dos descaminhos que se impõem às pessoas. O romance “A Verdadeira Vida de Sebastian Knight” discute por vias tortuosas a impossibilidade de se conhecer o outro. Não é direto, mesmo falando com objetividade. É a estória de um homem preparando-se para iniciar uma biografia (a verdadeira) de seu meio irmão, conhecido escritor com quem convivera pouco. Ao tentar compilar informações que poderiam dar sentido à história de vida do biografado depara-se com impossibilidades cambiantes, mas inextinguíveis. Tais impossibilidades minam o desejo de exatidão na apreensão daquele em quem concentra obsessivamente sua atenção e que pretende compreender. Seu contraponto seria uma outra obra biográfica produzida por um secretário oportunista e incapaz de enxergar para além dos estereótipos. O prometido enredo sobre a vida de Sebastian Knight não se forma. Os dados obtidos pelo narrador parecem não alcançar a verdade esperada. Cabe interpretar que a intenção de Nabokov foi tratar da questão de impossibilidades, de vazios, de ignorar irreparavelmente o que parece essencial e também de criticar a superficialidade das interpretações e das teorias criadas para dar conta das pessoas. Generalizações e coletivizações tornam-se, sob seu olhar, artifícios pouco respeitáveis quando utilizados além de uma certa conta. A vida de seu personagem, como qualquer vida, resiste a ser transformada em enredo. O contraditório e o imprevisível são sempre obstáculos às construções neste sentido. São também as verdades pouco palatáveis para os intelectos menos preparados ou dispostos a considerarem seu peso nos projetos de conhecimento sobre o outro e sobre o conjunto de todos os outros. Há curiosas citações oblíquas de obras ou ideias de ícones culturais como Sigmund Freud e Agatha Christie, entre vários. Com este livro, que é bem anterior ao mais conhecido “Lolita”, Nabokov expõe suas opiniões (bastante críticas) sobre o mundo intelectual que conheceu, mostrando sua rejeição a explicações universais ou muito abrangentes sobre o que é humano, que considerava ingênuas ou mal intencionadas.

Título da Obra: A VERDADEIRA VIDA DE SEBASTIAN KNIGHT

Autor: VLADIMIR NABOKOV

Tradutor: JOSÉ RUBENS SIQUEIRA

Editora: ALFAGUARA

sebastian

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