Junto com a brasilidade, Érico Veríssimo (Cruz Alta, 1905 – Porto Alegre, 1975) sentia-se profundamente gaúcho. E ainda para além, um habitante de múltiplas geografias e tempos. E um visitante sagaz de almas de muitos mundos. Apaixonado por sua terra, transformou a história do Rio Grande do Sul em estória cosmogônica, que reflete os aspectos universais das sagas humanas. Retratou diversas estórias dentro da História através dos variados planos de “O Tempo e o Vento”. Dividido em três partes (“O Continente”, “O Retrato” e “O Arquipélago”) e sete volumes, o romance fala encantadoramente de gente. Com muita diversidade. Os personagens são tão vivos que pulam para o universo do leitor. São indivíduos e famílias empenhados na criação de espaços de pertencimento e na construção de identidades. Veríssimo usa cores intensas para tratar da brutalidade nas relações entre pessoas e grupos que lutam por poder. Revela os processos de formação de crenças, convertidas em modos muito rígidos de pensar. Cristalizam-se em regras cegas de conduta e de compreensão do que acontece. Convicções políticas transformam-se em fanatismo. Nisto, o autor fala também da realidade política e social do Brasil naquele momento. Conta da intolerância ao diverso, novo e complexo. Às vezes também de sua aceitação e inclusão. Da riqueza que há nisto. Mostra processos de ruptura com as normas estabelecidas tanto para pessoas como coletividades. Renovação difícil e necessária sempre. Veríssimo desenha um painel sobre os mecanismos de constituição de uma sociedade que adquire movimento próprio e de contornos temerários. As sucessivas narrativas desenrolam-se através de décadas e séculos. Apresentam gente que não se apercebe do que é no que faz, e outros que de tão lúcidos são quase clarividentes. Há os que olham para tudo com fatalismo, os que assumem os próprios atos como um destino que não puderam escolher livremente, mas que não pensaram em evitar. São relevantes os descompassos entre o que os indivíduos tentam ser e aquilo em que se transformam, o que torna-se claro somente nos anoiteceres de suas vidas. Na evolução do longo (e delicioso) enredo autor sugere que a História não basta para revelar o humano. A intimidade dos personagens, nunca negligenciada, faz contrapontos e ajustes necessários para o que se dá em âmbito público. A obra conduz o leitor em uma grande viagem que, uma vez iniciada não permite desistência pelo meio do caminho. Pelo menos, não impunemente. Também não há retorno.
Título da Obra: O TEMPO E O VENTO
Autor: ÉRICO VERÍSSIMO
Editora: COMPANHIA DAS LETRAS
Luís, deu vontade de reler O tempo e o vento. Grande e querido Érico.
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Acho que vale mesmo que façamos muitas leituras. Sempre há prazer.
Obrigado pelo comentário, Anaelena.
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Luiz Justo que delícia!
Resgatarmos Érico em sua melhor obra , numa construção de identidade Gaúcha, e também a construção daquela sociedade na época .
Os Terra e os Cambará as lutas os amores …
Li em plena adolescência e nunca deixei de me entusiasmar
Grande indicação parabéns!
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Obrigado pelo comentário, Marco.
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Tenho todos os livros, mas ainda não consegui tempo para ler. Acho que será agora. Obrigada por compartilhar suas impressões sobre essa saga.
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