AO DEUS DARÁ

Os seres humanos podem ser muito incautos e insensatos, prescindindo do bom uso da razão, sensibilidade, ética e outros recursos necessários à interpretação da realidade e à pratica das melhores ações. A percepção que falha tende a implicar más consequências para indivíduos e para coletividades. Algozes e vítimas configuram-se neste âmbito.

É comum os indivíduos perderem-se nos meandros dos caminhos que planejam e enganarem-se irremediavelmente. Assim, conduzem-se às cegas, sem conseguir enxergar os reais perigos por onde andam do mesmo modo que não captam as oportunidades para alcançar o que é bom e possível.

O escritor britânico Ian McEwan (Aldershot, 1948) fala com esmero destes temas.

“Ao Deus Dará” (publicado em 1981) conta a estória de um casal mergulhado no tédio que se enreda numa situação complicada e trágica durante as férias numa cidade não nomeada, mas que poderia ser Veneza. Conhecem casualmente um homem que os atrai e convida a ignorar a prudência com promessas obscuras, tomadas pelo casal como aventura e excitação. O cenário cria luz e sombra, encantamento, mistério. Arma-se um jogo de máscaras, de falsas identidades. Fantasia e presunção assumem a regência. Riscos são ignorados.

A trama é muito sedutora, com clima é tenso. Uma leitura que não se deseja interromper. Com sutileza habitual, o autor sugere muito e explicita só o inevitável. No texto de pouca extensão nada é descartável. E aqui o que é sutil não tem nada de suave. Merece esta qualificação mais por evitar a obviedade no que pretende dizer. O foco está nos descaminhos. Lembra-nos de como pode ser trágico olhar para o mundo com lentes simplificadoras, ingênuas.

A potencial violência humana torna-se a grande protagonista do romance. Desnuda-se às vezes, mas nem sempre. Transita por onde não é esperada. Frequenta a imaginação sem ser apropriadamente aquilatada. Faz derreter a segurança idealizada. Violência que, em uma de suas vertentes, funciona como via para o gozo perverso do estranho e aniquilação do casal. E que, talvez por isto, por ser pressentida como uma forma de gozo, mesmerize e imante, mesmo assustando.

Título da Obra: AO DEUS DARÁ

Autor: IAN McEWAN

Tradutora: WALDÉA BARCELLOS

Editora: ROCCO

ao deus dará

8 comentários

  1. Luís, e eu que não sabia desse novo livro do McEwan! Oba! vou correndo comprar. Beijo e obrigada pela dica preciosa.

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    1. Olá Anaelena,
      Na verdade o livro foi lançado em 1981. Eu o havia lido há muito, mas tive vontade de postar um comentário sobre ele. Peguei o volume para dar uma olhada e acabei lendo-o novamente. Obrigado por comentar.
      Bj

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    1. É. Antigo mesmo. Eu o havia lido há alguns anos, mas tive vontade de postar um comentário por acha-lo muito bom. Acabei lendo-o inteiro quando fui dar uma olhada para refrescar a memória.
      Obrigado por comentar
      Bj

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  2. Com mil demônios, Justo! Descrito assim, eu já o deveria ter lido!
    Aliás, ja foi por sua recomendação que li Reparação, do mesmo autor. Lá vou eu atrás desse, ho-je!
    Obrigada por selecionar joio e trigo para nós. Bjo

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