SIMÓN BOLÍVAR E O “BOLIVARIANISMO”

O mundo sempre criou e utilizou heróis para diferentes fins. Simón José de la Santíssima Trinidad Bolívar Palácios y Blanco ou simplesmente Simón Bolívar (Caracas, 1783-1830) foi um deles. “Criollo” (nome dado a pessoas de origem espanhola nascidas em terras americanas),  ele era de uma família muito abastada e influente no Vice-Reino de Nova Granada de Espanha (que abrangia vários países latino-americanos, incluindo a atual Venezuela). Ficou órfão de pai e  mãe ainda criança. Foi educado dentro de padrões sofisticados por um tio que era seu tutor. Aos 15 anos foi enviado para a Espanha com o objetivo de lá completar sua educação. Casou-se com uma jovem da nobreza espanhola chamada Maria Teresa Rodrigues del Toro y Alayaza, com quem regressou à América do Sul. Sua esposa morreu de febre amarela um ano após a chegada. Em seguida Bolívar foi para Paris e durante algum tempo viveu entre aristocratas, buscando diversão para aliviar a dor de sua perda. Conheceu gente muito influente em sua época, como Alexander Von Humboldt, que talvez tenha sido um dos primeiros a compartilhar com ele o amor pela exuberante América do Sul. Isto ocorreu no início do período napoleônico. Ambos tinham ideias republicanas e admiravam os Estados Unidos por ter conseguido sua independência. Condenavam com veemência o colonialismo e o escravagismo (Bolívar herdou africanos escravizados, que libertou rapidamente). Durante estes anos na Europa Bolívar desenvolveu um senso de responsabilidade pessoal sobre os processos de luta pela libertação dos países latino-americanos. Retornou à América e empreendeu incansáveis batalhas nas quais teve papel fundamental na independência relativa ao jugo espanhol numa grande região, correspondendo a seis nações atuais. Tornou-se um mito em vida. Um herói da liberdade. Planejava a criação de uma federação sul-americana nos moldes da federação dos estados norte americanos. Na maturidade tornou-se Presidente da Gran Colômbia. Alegando dificuldade em manter a coesão dos povos (agora) libertos passou a atuar com autoritarismo crescente. Acusavam-no de estar transformando-se num ditador. Assim, granjeou inimigos. Sofreu uma tentativa de assassinato e acabou por renunciar a seu cargo e título. Morreu em 1830, provavelmente em consequência da tuberculose.

Em anos recentes Hugo Chaves determinou a exumação dos restos mortais de Bolívar para investigar um suposto  envenenamento, que poderia ter sido a real causa de sua morte. Até hoje nada foi provado neste sentido. O uso político parece ter sido a razão disto.

O movimento político/ideológico atualmente denominado “bolivarianismo” tomou o herói da libertação sul-americana como símbolo e alegou atualizar alguns de seus ideais, como a transformação da América do Sul numa liga de “Estados Federados”. Também houve farta utilização do repúdio de Bolívar pelo colonialismo para justificar a ideia de que o imperialismo capitaneado por países desenvolvidos seria causa de grandes males sofridos pelos países sul americanos. Em alguns países estas ideias assumiram feições radicais e serviram para mascarar problemas locais indevidamente tratados. Alguns dos líderes políticos recentes parecem ter se identificado prioritariamente com a fase autoritária de Bolívar, ao invés de compartilharem seus princípios éticos. Vale ressaltar que a associação de Simón Bolívar com o “bolivarianismo” moderno é sobretudo uma forma de oportunismo. Ele foi transformado em personagem de conveniência para justificar e transfigurar ações políticas e governamentais que são antidemocráticas e, francamente totalitárias. O exemplo maior é o do “chavismo” venezuelano que protagonizou os malfadados eventos que levaram o país à ruína. Todavia, outros políticos e governantes sul-americanos apoiam, pensam e tentam agir de modo semelhante à Chaves e Maduro; exemplos incluem Luís I. Lula da Silva, Dilma Roussef, Cristina Kirshner e Evo Morales, entre outros. Talvez uma mescla de anacronismo e oportunismo perigosa para a liberdade e desenvolvimento dos povos da América do Sul.

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