“História da Menina Perdida” é o volume que conclui a “Série Napolitana” de Elena Ferrante. Esta “série” constitui um grande romance dividido em quatro volumes. Com sua prosa de simplicidade formal e grande agilidade a autora “gruda” no leitor. É difícil interromper a leitura quando se mergulha no mundo que a autora apresenta. O foco maior é sempre a ligação entre duas mulheres, Lila e Lena, amigas, que também interagem como inimigas, desde a infância até a terceira idade. Especificidades femininas do estar no mundo são tratadas através do complexo relacionamento entre elas. Além disso, no decorrer da obra, os problemas que atingem as duas protagonistas vão se desdobrando e aparecendo também em outros personagens. Há uma certa descolagem da dimensão psicológica para promover significações de matiz mais social e até político. Universalizam-se os temas, sem que haja perda do intenso sabor da trama. A inveja, aparente, ou sub-reptícia, é uma das tônicas. O poder do não dito determina inquietações, e permite a pluralidade interpretativa. A violência, em sua grande plasticidade, também faz aparições periódicas. A aspiração de ascensão social, os preços a serem pagos por este anseio e suas medidas necessárias, assim como por outros desejos de mudança fazem aparições em diferentes formatos, como contraponto estre as duas personagens principais. São articuladas questões sobre ética e justiça social. Contradições inelutáveis são expostas. Características culturais locais, pregnantes na longa evolução de costumes napolitanos, e também aspectos da vida política italiana da época, são muito coloridas na narrativa.
Na naturalidade da vida cotidiana, este grande romance constrói-se de dramas, tragédias, e de “essências” que tornam o mundo tão árduo, rico, assustador e encantador. Soberano em sua mutabilidade incessante e na incompletude da apreensão de significados.
Título da Obra: HISTÓRIA DA MENINA PERDIDA
Autora: ELENA FERRANTE
Tradutor: MAURÍCIO SANTANA DIAS
Editora: GLOBO – BIBLIOTECA AZUL
Estante do Justo 