Muitas são as formas de linguagem que fazem circular informações e que podem remodelar as interpretações do mundo. A fotografia é uma delas. Bons filmes também. O francês Yann Arthus-Bertrand, que começou a carreira expressando seu espanto e admiração diante da Natureza fotografando-a, voltou gradualmente seu olhar para o humano, seu habitat, e para a humanização, tomada em diferentes vértices. Não deixou de considerar as intermináveis transformações da Terra, com suas dramáticas decorrências. Saiu em viagem por mundos quase sempre invisíveis para a maioria de nós. E, em seu ir e vir, vem conseguindo produzir impactantes obras de arte com suas fotos e documentários. Veículos feitos para transitarmos por universos aparentemente estranhos, dos quais fazemos parte e não nos damos conta. Sua visão ecológica da vida ajuda-nos a notar a beleza comovente do nosso planeta, que se extingue e se refaz todos os dias, incessantemente. Através do bem e do mal. Sua seleção de imagens, movimentos, e discursos de pessoas, que habitam desde lugares distantes e improváveis até aqueles que são os nossos, convida-nos à reflexão sobre o que concebemos como diversidade. A admissão daquilo que é diferente brota nos trabalhos de Arthus-Bertrand autenticamente, sem adulteração cultural. É uma forma de percepção quase despida de qualificações externas, que nos entra por olhos e ouvidos. Podemos pensar que há interpretação dele na estrutura de um documentário, por exemplo (vale assistir “Humano”), todavia, parece que, até onde é possível, ele busca evitar a auto-referência que pode corromper o diverso, pasteurizando-o, criando uma “mesmidade” disfarçada. Não há moralismo naquilo que este artista da vida produz. Há humanitarismo no sentido mais pleno. Também não se pode reduzir suas abordagens ao multiculturalismo. Há sensibilidade e empatia, que nos conduzem à domínios não percebidos como nossos, embora o sejam. Uma chance para tornarmos mais rico e vivo nosso acervo mental. E para estarmos mais presentes neste imenso e complexo mundo.
YANN ARTHUS-BERTRAND E A CAPACIDADE DE ENXERGAR O DIVERSO
