VOYEUR

O “jornalismo literário” é uma vertente de escrita que mescla estrutura e estética da literatura ficcional com relatos de investigação, descrição e análise de material jornalístico. Difere das reportagens comuns que podemos ler diariamente nos jornais. Um dos grandes expoentes deste estilo foi Truman Capote, especialmente com seu famoso “A Sangue Frio”. Atualmente Gay Talese faz parte de um grupo de jornalistas-escritores que adotaram esta forma de expressão com muito sucesso. Seu livro “Voyeur” causou grande polêmica por duas razões: foi alvo de críticas contundentes nos EUA devido aos aspectos éticos do material exposto não terem sido devidamente considerados pelo autor e posteriormente à publicação alguns grandes jornais americanos descobriram que muitas das informações dadas no livro são falsas. Talvez o autor tenha caído numa armadilha. Gay Talese conta a história de um homem que nos anos 70 procurou-o para compartilhar suas experiências como voyeur. Seu nome era Gerald Foos. Ele foi dono de dois motéis em Denver e num deles instalou “observatórios” nos tetos de alguns dos quartos para espiar o que faziam os hóspedes. Seu foco maior de interesse eram os comportamentos de natureza sexual. Como esperado, ele excitava-se com a atividade sexual de outros, o que também foi relatado ao jornalista, que repassou para o leitor. O voyeur anotava o que supostamente via e tecia comentários. Vários dos eventos que ele disse ter observados foram reproduzidos no livro. Com aparente ingenuidade Foos acreditava estar fazendo um trabalho de pesquisa e possivelmente contribuindo para o avanço do conhecimento sobre os seres humanos. Parecia crer que estava utilizando métodos semelhantes aos de Masters&Jonhsons (atualmente também muito desacreditados). Talese não fez uma checou minimamente a veracidade dos dados fornecidos por sua “fonte”, apesar de ter mantido com dono dos Motéis uma relação, especialmente por correspondência, durante décadas. Para quem lê parece que o autor de trabalhos anteriores tão prestigiados não chegou a compreender a gravidade das infrações morais (caso o relato fosse verdadeiro) e nem a suspeitar de que algo mais do que o material aparente estivesse sendo a ele destinado. Soma-se a isso certa pobreza do conjunto da reportagem. Não se sabe agora o quanto do conteúdo do livro reflete experiências realmente vividas pelo voyeur e o quanto foi inventado por ele. Seria mesmo um voyeur? Seria uma variante de exibicionista? Um mitômano? Talese tem manifestado indignação em relação a seu informante e diz que reformulará o livro. Parece estar vexado, após uma carreira tão bem sucedida. A obra acabou tornando-se mais interessante pelas circunstâncias da história de sua criação e pelo que suscita à respeito das reais motivações de Gerald Foos, do que pela qualidade do trabalho empreendido por Talese.
Título da Obra: VOYEUR
Autor: GAY TALESE
Tradutor: PEDRO MAIA SOARES

Editora: COMPANHIA DAS LETRAS

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