MONTEIRO LOBATO

Nos últimos anos surgiu polêmica a respeito de ser Monteiro Lobato não só um homem preconceituoso, mas também um promotor do racismo. Quanto a preconceitos acho crível, pois, como todos nós, ele devia ter seus defeitos e entre estes, também como provavelmente todos nós, alguns preconceitos. Estes são sempre ruins. Porém, acho que a força ética veiculada no conjunto de sua obra para a infância é contrária ao desenvolvimento de ideias racistas nas crianças. José Bento Renato Monteiro Lobato nasceu em Taubaté em 1882 e viveu em São Paulo grande parte de sua vida. Foi um baluarte da Cultura em sua época. Escritor e editor, desejava que o Brasil se tornasse uma terra de pessoas informadas e capazes de melhorar as condições do viver, tanto nas zonas rurais quanto urbanas. Ansiava por um país que se apropriasse de suas riquezas, em amplo sentido, e que estivesse em compasso com o mundo desenvolvido. Era bastante afirmativo no que considerava desenvolvimento. Queria ver os livros impressos aqui e não na Europa, pois assim seriam mais fartos e baratos. Era um homem pragmático e representou bem a época em que viveu. Manifestou opiniões ousadas em algumas áreas e talvez tenha sido omisso em relação a fatos e ideias que poderia ter criticado, e mesmo combatido. Não gostou da Semana de Arte Moderna. Desqualificou, injustamente, o trabalho de Anita Malfatti. No campo das artes visuais, seu senso estético parecia limitado às linguagens muito convencionais, ao contrário de suas posições quanto a outros assuntos. Em suma, presente no seu presente, para o que possamos aprovar e também reprovar.  Escreveu muitos contos, e alguns romances para adultos, mas foi na literatura infantil que contribuiu mais brilhantemente para a formação de muitos brasileiros. Emília, o Visconde de Sabugosa, Pedrinho, Narizinho, D. Benta e Tia Anastácia são companhia para toda a vida, para quem leu o autor. Além de povoar nossa imaginação com eles, Lobato valorizou os personagens do folclore brasileiro, como o saci e a cuca. Em seus livros, ele transportou e continua transportando os pequenos leitores não só para o Sítio do Pica-Pau-Amarelo, mas também para lugares como a Grécia antiga, com sua mitologia e muitos outros espaços de puro encantamento. Recontou grandes estórias, como as de D. Quixote e de Peter Pan. Fez a história do mundo parecer uma viagem mágica. E para além de toda a preocupação didática o que o escritor ensinou foi que se pode ter muito prazer com a leitura. Uma lição para a vida toda também. Emília, com sua graciosa impertinência planta nas crianças as sementes do pensar crítico. O Visconde de Sabugosa intervém com o bom senso. D. Benta e Tia Anastácia, cada uma de seu modo, aproximam a criança, ternamente, do mundo adulto. Ambas representam a lei, a disciplina, a sabedoria doméstica de uma época, e também a bondade; prometem que crescer pode significar uma aventura desejável. Pedrinho e Narizinho são todas as crianças. Eram e continuam sendo todos nós, de diversas cores e formatos, que tivemos o privilégio de viver uma parte de nossas vidas no Sítio.  Não conheço ninguém que tenha ficado para fora da porteira.
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12 comentários

  1. Que oportuna lembrança Luis!!! Obrigada. Lobato foi, na minha vida, o portal entre a realidade vivida e a capacidade de idealizar e concretizar sonhos, tão improváveis naquela infância. Quem mais, além dele, inventava aranhas para tecerem um vestido onde nadavam peixinhos?? ❤️❤️❤️

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  2. Todas as crianças que puderam fantasiar a vida no Sítio foram abençoadas pela boa literatura! Brindemos a estes personagens inesquecíveis! Resgatemos o autor que retratou uma época e os seus valores!

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  3. Todas as crianças que puderam fantasiar a vida no Sítio foram abençoadas pela boa literatura! Brindemos a estes personagens inesquecíveis! Resgatemos o autor que retratou uma época e os seus valores!

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  4. Monteiro Lobato é um dos meus heróis! A acusação feita hoje a ele é, no mínimo, de quem não teve educação literária para entender que certos escritos refletem a cultura da época… Sinto dó de quem não sabe ler nas entrelinhas e nem viajar com o pó de pirlimpimpim!
    Bjins, Justo!

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  5. Lembrar de Monteiro lobato me traz uma nostalgia boa da minha infância,em particular O Sítio do Pica Pau Amarelo,as crianças daquela geração realmente tiveram o sabor de serem e gostar de serem crianças num misto de inocência e imaginação bastaste fértil!!!!

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  6. Querido Luís, gostei demais de seu texto sobre Lobato. Salve ele e o mundo fantástico que criou. Sua Estante anda de ótima a melhor. Beijos, bom final de semana.

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  7. OI Luis Monteiro Lobato foi um privilégio na infância das crianças. Concordo com suas colocações. Beijos

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