Nir Baram, jovem escritor israelense, vem impressionando o mundo literário por seu talento para contar boas estórias sobre temas difíceis. Em seu quarto romance, “Boas Pessoas”, o autor tece duas tramas que se desenrolam ao mesmo tempo, em locais diferentes e têm um ponto de congruência na dimensão trágica. Uma é a trajetória de uma jovem russa que tem o núcleo familiar devastado pela estratégia estalinista de romper vínculos afetivos entre os indivíduos, vistos como prejudiciais ao seu bom funcionamento enquanto peças da engrenagem estatal; na segunda trama Baram fala de um homem que tem seus frágeis, mas pretensiosos, planos de reconhecimento social dissolvidos pela força totalitária do Estado nazista na Alemanha da segunda grande guerra. São personagens marcantes, assim como o mote da estória. Não há simplificações na caracterização psicológica de nenhum dos protagonistas. Suas estruturas são dominadas pelas dificuldades da busca ou afirmação de uma identidade e da sobrevivência da singularidade em sociedades que passaram a ser dominadas pela massificação. São indivíduos que têm sua existência ameaçada, concreta e simbolicamente, pelo Estado totalitário que os arrasta violentamente para o anonimato e provoca o esvaziamento de sentidos essenciais para o viver. Fica patente o horror diante da impotência vivida frente ao mundo onde a vida é efêmera para aquém da morte física. Não há muita esperança, mesmo quando o indivíduo tudo faz para servir ao Estado, pois o vazio de importância do “humano” torna insuportável o existir. Talvez impossível. Todavia, a resistência da razão e a força dos afetos acabam por ser sempre instrumentos de sobrevivência e renovação.
Título da Obra: BOAS PESSOAS
Autor: NIR BARAM
Tradução do Hebraico: NANCY ROZENCHAN
Editora: ALFAGUARA
Estante do Justo 