A VIDA IMORTAL DE HENRIETTA LACKS

Em ambientes acadêmicos e de pesquisa as células HeLa são relativamente bem conhecidas. Todavia, poucos conhecem a história da origem destas células. A jornalista norte americana Rebecca Skloot escreveu um livro sobre isto, “A Vida Imortal de Henrietta Lacks”. Para isto a autora enfrentou desafios. Acabou por percorrer uma trajetória acidentada que resultou na reconstrução do episódio que teve longo desenrolar e que envolveu Henrietta Lacks. Dela, mulher pobre, afrodescendente, nascida numa fazenda de tabaco no Estado da Virgínia em 1920 e que depois emigrou para Baltimore, onde viveu até sua morte, causada por câncer de colo de útero, são provenientes as células HeLa. O livro também permite ao leitor vislumbrar as condições em que viviam alguns de seus descendentes no momento em que a escritora fazia sua coleta de informações e a relação que tinham com a imagem da ancestral, doadora involuntária do que transformou-se em “material biológico” que tanto contribuiu para o desenvolvimento da ciência.  As células HeLa, ainda comercializadas para pesquisa, foram extraídas do tumor que pôs fim precoce à vida de Henrietta. Reproduzem-se ilimitadamente em meios de cultura adequados. Já foram utilizadas em estudos importantes e certamente renderam muito dinheiro para quem as comercializou. A retirada da amostra do tumor foi feita no início dos anos de 1950 quando ainda não se aplicavam de modo obrigatório e sistemático os termos de consentimento livre e esclarecido para pessoas que participavam de estudos científicos. Henrietta foi doadora de tecido tumoral de seu útero sem que tenha dado consentimento para isto. Do mesmo modo os familiares também não foram consultados ou se quer informados do que seria feito. Este modo de proceder não representava na época a infração ética que viria ser algumas décadas depois. As pesquisas de Skloot acabaram por revelar outra dimensão desta saga histórico-científica que foi a biografia de uma mulher humilde, vivendo num país profundamente marcado por preconceitos raciais que, talvez, tenham contribuído para a falta de cuidado, para não dizer respeito, por parte dos médicos e do hospital (Johns Hopkins) que dela cuidaram na doença, para com seu corpo morto, de onde seria extraído o “material”. O modo como a autora fala disto é tocante. Também o são os desdobramentos desses eventos para seus parentes. A leitura deste livro obriga à reflexão sobre comportamentos éticos, em pesquisa ou na vida. Difícil ficar indiferente.

Título da Obra: A VIDA IMORTAL DE HENRIETTA LACKS

Autora: REBECCA SKLOOT

Tradutor: IVO KORYTOWSKI

Editora: COMPANHIA DAS LETRAS

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