Relações entre pessoas são universos de complexidade e mistério. Espelham as errâncias do ser humano em suas trajetórias. Isto pode ganhar cores intensas quando se pensa em interações que implicam amor e relacionamento sexual. Yasunari Kawabata (Japão, 1899 – 1972) fala sobre estes temas em ‘A CASA DAS BELAS ADORMECIDAS”.
O pequeno romance traz à cena um homem de sessenta e sete anos, Eguchi, que começa a frequentar uma casa de prestação de serviço a homens idosos possibilitando-lhes dormir com mulheres jovens fortemente sedadas. Não lhes é permitido manter relações sexuais com as moças. A eles também são fornecidos comprimidos para que adormeçam, se desejarem. Pela manhã são despertados e retiram-se.
Eguchi ainda “sente-se homem” e presume-se diferente de outros clientes da casa das “belas adormecidas”, que ele supõe já estarem impotentes. Esta distinção não impede que passe a fazer reflexões perturbadoras ao contemplar as bonitas e inertes jovens com quem se deita para dormir. O papel da mulher em sua vida começa ser repensado, assim como o seu na vida delas. As moças da casa são bonecas vivas para ele e os demais clientes, o que é muito significativo na estória. Isto aponta para a “coisificação” que uns fazem com outros, neste caso os homens com as mulheres investidas pelo desejo sexual.
Para personagem central a energia sexual está cada vez mais aprisionada num corpo que sofre as transformações impostas pelos anos. O desejo nunca se tornou suficientemente passível de compreensão e de manejo voluntário. Circula insubmisso, estranho. Alimenta e consome as convicções, rouba-lhe a paz. Eguchi depara-se com seu passado e as lembranças de várias mulheres que o povoaram. Vê-se como filho da mãe precocemente falecida e pai de filhas que já estão em seus próprios mundos. Dá-se conta da presença vaga da esposa. Estas ocupam espaços diferentes das amantes. Ele se dá conta da grande distância que guarda de todas elas, desde sempre. Comunhão sexual inexiste no presente e não pode ser resgatada do passado, talvez nem tenha sido procurada ou mesmo encontrada fortuitamente. A solidão desnuda-se cruel no momento da narrativa e a finitude apresenta suas insígnias.
A casa ganha contornos sinistros para o homem. A ideia da morte habita-a. Paralisadas em seu sono, as garotas metamorfoseiam encantamento em reconhecimento de limitações e frustração. Ele não pode mais se ver como protagonista em seus encontros com as mulheres, em qualquer tempo. Resta a submissão irrevogável, o exílio de um modo de se ver e de interpretar a vida.
Título da Obra: A CASA DAS BELAS ADORMECIDAS
Autor: YASUNARI KAWABATA
Tradução: MEIKO SHIMON
Editora: ESTAÇÃO LIBERDADE
