EROS E PSIQUE

Este é um poema de Fernando Pessoa (Lisboa, 1888-1935). Acho-o um dos mais bonitos, entre tantos tão belos que nos legou o poeta. É de 1933. Vem precedido do seguinte:

“…E assim vedes, meu Irmão, que as verdades que vos foram dadas no Grau do Neófito, e aquelas que vos foram dadas no Grau de Adepto Menor, são, ainda que opostas, a mesma verdade.”

“Do Ritual do Grau de Mestre do Átrio na Ordem Templária de Portugal”

Conta A Lenda que dormia

Uma Princesa encantada

A quem só despertaria

Um Infante, que viria

De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,

Vencer o mal e o bem,

Antes que, já libertado,

Deixasse o caminho errado

Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,

Se espera, dormindo espera,

Sonha em morte a sua vida,

E orna-lhe a fronte esquecida,

Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,

Sem saber que intuito tem,

Rompe o caminho fadado,

Ele dela é ignorado,

Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino –

Ela dormindo encantada,

Ele buscando-a sem tino

Pelo processo divino

Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro

Tudo pela estrada fora,

E falso, ele vem seguro,

E, vencendo estrada e muro,

Chega onde em sono ela mora

E, inda tonto do que houvera,

À cabeça, em maresia,

Ergue a mão, e encontra a hera,

E vê que ele mesmo era

A Princesa que dormia.

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