AS PEQUENAS VIRTUDES

O mundo, a vida nele, tem tantas dimensões que frequentemente não há vista possível para abarcá-las. As compreensões sobre o que se é em cada momento e o que é tudo aquilo em que se está imerso e por onde se fazem caminhos, são plásticas e sempre marcadas por grandes doses de singularidade. Cada um sabe de si e do resto do universo a seu modo. Para o reconhecimento desta complicada realidade é importante ouvir, com todos os sentidos e cognições possíveis, o que é dito, através de múltiplas vias, a cada um.

“As Pequenas Virtudes” da italiana Natália Ginzburg (Palermo, 1916 – Roma, 1991) é uma coletânea de breves ensaios publicados em jornais durante um período relativamente longo. Através deles a autora divide com o leitor seu modo de enxergar o que viveu. Uma mistura de retratos e interpretações. Manifesta modos de sentir e entender. Suas opiniões são oferecidas sem a pretensão de estamparem conhecimento especialmente sofisticado. É tocante sua sinceridade. Seus valores transparecem sem pregações, entremeados com o sentido do trabalho como escritora, a impregnação pela poesia, a vocação profunda. O leitor tem a impressão de ser brindado com um convite a passear por áreas de intimidade, assim como por seus deslocamentos geográficos e as implicações deles. As relações com os queridos, os próximos aparecem como se fossem comentadas no frescor de uma conversa agradável com alguém em quem se pode confiar e admirar. Não há que se concordar com o que ela diz. O amigo Cesare Pavese sobrevoa um dos ensaios com a descrição de peculiaridades dificilmente expostas em outros contextos. Ela conta um pouco do que foi sua formação enquanto criança e adolescente. Além do que julgou importante transmitir aos filhos. Pequenas virtudes num modo de dizer, mas certamente muito grandes.

Tudo com a beleza da simplicidade e a honestidade dos que têm coragem para dizer o que pensam e que acreditam no benefício do compartilhamento de percepções e ideias. Delicado, forte.

Título da Obra: AS PEQUENAS VIRTUDES

Autora: NATALIA GINZBURG

Tradutor: MAURÍCIO SANTANA DIAS

Editora: COMPANHIA DAS LETRAS

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