A FILHA DO CAPITÃO

Aleksandr Púchkin (Rússia, 1799-1837) é considerado por muitos o fundador da moderna literatura russa. Escreveu poesia, teatro, ensaio histórico e prosa. Nesta última modalidade, “A Filha do Capitão” é o seu trabalho mais relevante. Um romance histórico em mais de um sentido.

“A Filha do Capitão” fala sobre um período da vida do jovem aristocrata Piotr Grinióv e sua complexa relação com um contraventor/rebelde/usurpador, Pugatchóv, que realmente existiu e parece ter fascinado Púchkin. Como terceiro elemento, de fundamental importância na trama, há a jovem Maria, filha do capitão que comandava a fortaleza na qual servia Grinióv. A paixão entre os dois dá rumo à narrativa e tem importância para contrabalançar o que poderia parecer admiração imprópria por um homem cruel, com propósitos toscamente definidos, que traía os pares do protagonista (e do autor) e a ordem estabelecida.

Emelian Pugatchóv (Rússia, 1742-1775) foi um cossaco que liderou sangrenta rebelião durante o governo de Catarina II, a Grande, no século XVIII. Ele atacou diversas fortalezas e arregimentou nelas grande parte de seus combatentes. Intitulou-se czar, afirmando ser o falecido marido de Catarina (Pedro III) que tinha estado preso antes de morrer. Reivindicava o trono e pretendia derrubar a czarina. Seu papel como violento rebelde refletiu aspectos peculiares ao período em que viveu. Além disto, guarda elementos que são universais, aparecendo nas sociedades que o antecederam e sucederam. A Rússia era habitada por povos heterogêneos e que vivam em condições muito díspares. A estrutura social era opressiva para a maioria deles. Havia abismos entre as classes sociais. A aristocracia viva num universo totalmente distinto das classes populares, que incluíam a dos servos (pertencentes à terra em que vivam e a seu dono, proprietário de tudo, trabalhando num regime não muito diferente da escravidão). Uma parte da população clamava por mudanças que pudessem modificar as relações sociais e as posições de seus atores quanto a direitos e deveres e no exercício do poder.

 Púchkin foi um aristocrata que se sensibilizou profundamente com as injustiças que vigiam em seu mundo. Todavia, suas posições políticas e comportamentos foram contraditórios; algo talvez frequente entre seus compatriotas. Parte significativa do que produziu trata dos males sociais e de suas interpretações. Tomado por muitos de seus apreciadores como um autor romântico, transitou para o realismo. “A Filha do Capitão” talvez seja exemplo da mescla das duas correntes.

Um livro envolvente e instigante.

Título da Obra: A FILHA DO CAPITÃO

Autor: ALEKSANDR PÚCHKIN

Tradutor: BORIS SCHNAIDERMAN

Editora: 34  

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