A VIDA MENTIROSA DOS ADULTOS

Os seres humanos parecem tender universalmente a desviarem-se do que é verdadeiro à menor dificuldade de sustenta-lo. Em pensamentos, discursos e atos. Das crianças é esperado que acreditem e confiem nos adultos. E isto dá-se durante um tempo. Porém, faz parte do desenvolvimento o aprendizado do pensamento crítico, a remoção de certas crenças e valores, substituindo-os periodicamente por outros, e o cuidado permanente com o que é sugerido, afirmado e ensinado pelos indivíduos entre si. Na infância mente-se de alguns modos, na idade adulta os recursos para isto modificam-se e multiplicam-se. Podem se sofisticar a ponto de tornarem invisíveis os métodos de falseamento. “A Vida Mentirosa dos Adultos” da italiana Elena Ferrante (cuja biografia é quase desconhecida) trata da relação de uma adolescente com o falso e o verdadeiro naquilo que constitui seu mundo. É um romance de formação. A transição entre uma fase em que as aparências são convincentes e tudo parece muito sólido, para o restante da vida, em que a percepção das incertezas que dominam a realidade passa a ser uma tônica. A instabilidade entra em cena para nunca mais sair. A trama está localizada num período curto da vida de uma menina transformando-se em mulher. Como em outras obras, a autora trata com talento de questões próprias do feminino. Relações familiares, com o peso que podem ter as fantasias e fatos sobre a origem e destino são abordadas com sensibilidade. Assim como o amor, a amizade e o lugar que alguém pode ocupar na vida de outros. A busca de ascensão social importa no desenrolar das vidas dos personagens. Mas, há bem mais do que isto. Uma estória envolvente e bem ritmada, mesmo não tendo amplitude e profundidade de outros livros da escritora (especialmente a “Série Napolitana”, que começa com “A Amiga Genial”).

Título da Obra: A VIDA MENTIROSA DOS ADULTOS

Autora: ELENA FERRANTE

Tradutor: MARCELLO LINO

Editora: INTRÍNSECA

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4 comentários

  1. Bela reflexão. Ainda não li este título de Elena Ferrante, mas sempre me questionei sobre a hipocrisia na conduta dos adultos para com as crianças. A crer nas palavras, nos ensinamentos, não haveria desonestidade no mundo. Mas, em certa medida, isto parece ser necessário para definir as balizas entre o moral e o imoral. A questão, como sempre, é a medida, para que o jovem não se torne demasiado desonesto ou demasiadamente inseguro, quando for confrontado com o “faça o que eu digo e não o que eu faço “.

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